Putos & imputáveis
Os putos são imputáveis em qualquer lugar do mundo onde se pratica alguma forma de direitos humanos. Sim, é isso. Puta é outra coisa, o gênero é feminino e é a abreviação do substantivo “prostituta”. Trata-se de uma profissão e, embora seja uma atividade deprimente, há quem diga ser a profissão mais antiga da Terra. Encontramos tal atividade nos livros antigos, inclusive na Bíblia, onde prostitutas desempenharam papéis-chave para a consolidação de um povo. Todas as culturas ocidentais dizem que as putas são "putáveis", mas todas as toleram. Em alguns países estão regulamentadas como as demais profissões.
O que nem todos sabem é quem são os putos, essa palavra feia que se usa para ofender alguém do sexo masculino. No português original, aquele que se fala em Portugal, puto vem do latim ‘putu’, é do gênero masculino e significa menino, miúdo, jovem. Tem um fado em Portugal escrito por José Carlos A. dos Santos e Paulo de Carvalho cujo título é “Os putos”; um livro com o mesmo título foi escrito na década de 1970 por Altino do Tojal e ainda na mesma década tornou-se uma série de televisão. Entretanto, em “terras brasilis”, o substantivo ‘puto’ pode ser ofensivo. Quando se está com pouco ou nenhum dinheiro, diz-se que está “sem um puto no bolso”, se estiver se referindo a um homem, é para chama-lo de homossexual, pervertido, depravado, desonesto ou velhaco.
Faz tempo que as democracias criaram dispositivos (inimputabilidade) para proteger aqueles que exercem cargo eletivo que o coloquem expostos ao debate com forças superiores. Fui cipeiro várias vezes nas indústrias pelas quais passei; numa delas encampei uma luta contra abusos de uma direção arbitrária e supervisores inexperientes que praticavam desmandos. Nesta empresa denunciei a falta de realização dos exames periódicos nos funcionários, fato que resultou na visita do sindicato dos metalúrgicos e fiscais do trabalho, ficando a empresa obrigada a realizar os exames num prazo determinado. O supervisor de produção desejou ardentemente me demitir, não o fazendo devido à proteção que me assegurava estabilidade por um ano subsequente ao mandato, eu estava inimputável.
Políticos em exercício de mandato também são inimputáveis. O problema é que alguns sujeitos, sem a mínima vocação para o cargo, que tem a função de defender os interesses da população, têm se apossado dos mesmos: são especuladores financeiros, grileiros, fazendeiros inescrupulosos, representantes dos mais diversos segmentos da indústria e do comércio, poucos representantes do povo pobre, periférico ou favelado e um número crescente de ex policiais, que inclusive usam suas patentes como “appeal” às massas ávidas pela segurança que não terão, provavelmente terão mais violência.
Há dias, um desses “representantes”, egresso da PM fluminense, arvorou-se defensor da violência institucional rejeitada nas urnas de 1974 em plena ditadura, o que obrigou os detentores do poder, que na época ainda praticavam arbitrariedades que seguiram por mais uns 4 anos, a iniciar um processo de abertura que culminou com as eleições diretas para governador em 1982 e no ocaso do regime em 1985 com eleições indiretas para a Presidência da República.
O dito “representante”, com cargo de deputado federal, acabou preso “por apologia ao arbítrio” sendo “flagranteado” pelo delito, porém o caso deveria ser referendado pelo STF, que o fez pelo placar de 11x0. Faltava a apreciação da Câmara dos Deputados, que apoiou a decisão a Suprema Corte por mais de 360 votos contra pouco mais de 100. Os próprios colegas de Sua Excelência defensora do AI-5 o consideraram puto, à portuguesa e à brasileira.
Em seguida, os colegas de Sua Excelência prepararam a PEC 3/2021 que amplia ao infinito as prerrogativas dos legisladores.
Putos e imputáveis, é o que alguns querem ser.