O MENINO DO PANO DE SACO
O MENINO DO PANO DE SACO
Em pleno sol da tarde, numa rua comprida e quase deserta, um menino caminhava a passos lentos, como que alguém que, embora trabalhado muito não teve um dia sem sucesso nas vendas. Ele trazia no braço esquerdo um fardo de panos de saco. Ia chutando as pedrinhas do caminho, cabisbaixo e com semblante triste. Eu já havia passado por ele quando adentava à rua da minha esquerda, e ele prosseguia no seu caminho. Parei o carro, abri o vidro do lado do carona, fiz sinal para ele, buzinando, e logo veio na minha direção. Quanto é o pano meu amigo? – Quatro panos por dez reais! - Vendeu bem hoje? – Que nada, estou voltando com todos os panos. Peguei a carteira, vi que tinha apenas uma nota de cem, outra de cinquenta, dez e dois reais. – Quero quatro panos, tenho dez reais e vou te dar mais dois reais para o lanche. Obrigado! Antes que saísse, ele respondendo às minhas perguntas, disse que estudava pela manhã, mas que não estava tendo aulas por causa da pandemia; morava com a vó e, tudo que consegui na venda dos panos servia para seu sustento e da vó. Parabéns! Deus abençoa quem trabalha, foram as minhas palavras, ele esboçou um sorriso e saiu. Continuei meu trajeto, pensando: eu devia ter acompanhado aquele garoto até sua casa, para conhecer melhor a sua situação, dar uma ajuda mais significante. Minha turma me aguardava para um mutirão onde estávamos construindo uma casa para uma viúva, muito carente, idosa, com dois filhos especiais. Lembrei das palavras de Jesus: “...pobres, vós sempre os tereis convosco...” Jesus se referia ao curto tempo que tinha no mundo com seus discípulos. Mas, qual teria sido a mensagem além de ter se referido ao tempo de sua presença? Uma questão de oportunidade única em usufruir da presença do mestre, enquanto, que, a preocupação com os pobres, não faltariam oportunidades, sempre existiriam. A provocação foi do discípulo Judas, o tesoureiro do grupo apostólico. Judas havia considerado como desperdício o perfume derramado nos pés de Jesus, num ato de amor por Maria. Quando penso nos pobres, fico seguro de que sempre existirão como oportunidade para que os cristãos exerçam um ato de amor. Volto a dizer: a presença dos pobres, significa oportunidade. Bem verdade é que, a fome e a pobreza no mundo sempre existirão, nenhum governo vai conseguir exterminar a pobreza ou a miséria no mundo, ou seja, as diferenças sociais sempre existirão. Assim como Judas, muitos consideram desperdício oferecer auxílio aos menos favorecidos pela sorte. Mais ainda, quem daria oportunidade de emprego para alguém que, após ter cumprido a sua pena tenha saído da cadeia? Bem verdade que, encontraremos centenas, milhares de oportunidades todos os dias para estender a mão e dar ajuda a um nosso semelhante. Assim, não somente o menino dos panos de saco e tantos outros meninos de bem que saem as ruas na tentativa de conseguir algum dinheiro para colocar comida dentro de casa – seja o menino da mariola, a menina da paçoca de amendoim, o idoso que busca o seu pão, vendendo de jujuba nos semáforos, ou do carrinho de pipoca. Até mesmo, os malabaristas que invadem as ruas entremeio aos carros, contando com a gentileza de alguns dos que passam. As pessoas que de alguma forma procuram seu sustento pelo trabalho, essas devem ser reconhecidas e prestigiadas. O que não se deve fazer é dar dinheiro aos falsos aleijados, falsos cegos, que por enganar a tantos, constroem verdadeiras fortunas explorando as pessoas de boa-fé. A nossa prudência e, talvez senso de justiça, nem sempre justifica a nossa negação em ajudar o necessitado. O que nos justifica, segundo palavras de Jesus: “Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede e não me destes de beber; sendo forasteiro, não me hospedastes; estando nu, não me vestistes; achando-me enfermo e preso, não fostes ver-me”. Tantas oportunidades para provar o nosso amor, ter alegria e paz na alma em fazer o bem ao nosso próximo. E quando se trata de crianças, o apelo de Cristo torna-se mais incisivo: “Em verdade vos digo que, sempre que o deixastes de fazer a destes pequeninos, a mim o deixastes fazer.” Pensando assim, ainda me perturba a mente a lembrança do menino do pano de saco, bem que eu poderia ter feito um pouco mais por ele. Contudo, me alimenta no desejo de ser melhor, e ter mais cuidado para não pecar, pois que diz a Bíblia: “Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso comete pecado” (Tiago 4.17). Diz o cântico: “Deus completa meu desejo de ser bom; Deus completa meu desejo de servir melhor; Ele sabe o que vai dentro do meu coração; Deus completa o incompleto que existe em mim”. Fazei o bem a todos, mesmo que seja o menino do pano de saco. 26\02\2021