DESFECHOS EXISTENCIAIS INESPERADOS, INUSITADOS E DOÍDOS
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
DESFECHOS EXISTENCIAIS INESPERADOS, INUSITADOS E DOÍDOS
Por mais profundidade existente na Metafísica, é bem possível que ela não se completará em explicar muitas das coisas existentes no mundo e na vida, no tocante à existência humana e outras, também. A começar pela origem desta. Mesmo havendo teorias e teses em religião e ciência.
Por outro lado, a existência dos estudos ontológicos, dentro dessa propriedade, também não alcançariam todas as explicações que buscássemos a respeito de tantas coisas que desejamos saber e, mais ainda, suas explicações existenciais.
Recentemente tomei conhecimento de um fato triste. Dois seres, mãe e filho, amigos de longa data, os quais os tenho como verdadeiros parentes consanguíneos, apesar de não o serem, separaram-se de forma dolorosa. Com alegação filial das dificuldades que a mãe vinha encontrando, em virtude de idade avançada, já mais de oitenta anos, agravada por surdez e deficiência visual, que já a impedia de muitas ações costumeiras.
Ressalte-se e esclareça-se que essa relação fraternal não possui consanguinidade em função do filho ter sido adotado em idade tenra, uns três anos, aproximadamente, no início da década de oitenta no século anterior ao que estamos vivendo. Nessa época o casal era completo, desfazendo-se décadas depois com separação e em outro tempo após a morte do marido.
Circunstancialmente vivíamos distante uns dos outros, mantendo contatos razoáveis telefônicos. E muito espaçadamente nesse período nos visitávamos. Eles viviam em Santa Catarina e este autor no Rio de Janeiro. Mas os sentimentos entre nós era intenso por razões de uma ótima convivência familiar que tivemos nas décadas de sessenta/setenta, há mais de cinquenta anos atrás.
Mas nesses últimos vinte anos, comecei a perceber uma distorção entre a mãe e o filho. Esta nutria por ele um sentimento de tanta profundidade, mas sob o caráter possessivo, a ponto de impedir que o mesmo se relacionasse com qualquer moça/mulher, o que é naturalíssimo nessas circunstâncias.
E seu exagero era tanto que todas elas sofriam difamações dela. Sob seus conceitos, nenhuma das namoradas do filho era boa pessoa. E nisso empregava termos pesados com relação à moralidade daquelas. Mas mal ou bem iam vivendo nessas circunstâncias um tanto quanto conflitivas. E numa das relações do filho ele acabou por gerar um filho numa delas.
Isto não mudou nada no comportamento da mãe. Tinha a 'nora' como adversária e até inimiga, porque via nisso um furto da mesma com relação a seu filho, ao qual, como dito, possuía uma possessão absurda e injustificável. Além de inaceitável, claro. O que acabou fazendo com que eles se separassem.
Mesmo de longe sempre soube da maioria das coisas que acontecia entre eles. Ela ao ligar-me, lastimava-se e maldizia-se o tempo inteiro a respeito das relações do filho com todas as outras mulheres com as quais se relacionasse. Naturalmente que cansei de recriminá-la dessa postura possessiva, explicando-lhe que um filho não é posse absoluta dos pais. E o tempo faz, e sempre fará, a separação entre ambos, porque filhos terão que buscar suas próprias vidas a partir de um certo tempo delas. Mas isso ela nunca entendeu e muito menos aceitou. Ou seja, não aprendeu a viver.
Hoje, estão separados. A mãe foi para um abrigo de idosos e ele ficou no apartamento da mãe, morando com uma nova mulher, arranjada durante o período em que atravessou sérios problemas físicos e de saúde, que o obrigou a fazer um transplante de fígado, ou outro órgão, não lembro ao certo.
Felizmente recuperou-se totalmente, voltando a ter uma vida normal, ou quase. Mas essa situação incomodou a este autor porque é inaceitável que um filho, que foi criado com um amor até exagerado por parte de sua mãe, que assustadoramente concentrou-se na vida de um filho que não lhe nasceu de seu próprio ventre. Mas isso não influiu no amor que ela lhe despendeu.
Às vezes penso que uma pessoa pode não ser tão normal, a ponto de conseguir captar nuances das mais sublimes num semelhante. Positiva ou negativamente. Como se fosse um estigma, dá pra sentir as sensações alheias. E isso é um processo por demais desgastante para quem possui uma verve como essa, porque consegue desnudar o outro, descobrindo suas características, peculiaridades e até certos segredos.
Num fato razoavelmente recente, numa conversa por telefone com esse filho, este fez uma declaração um tanto quanto surpreendente, porque afirmou que voltou-se para esta mulher com quem vive atualmente, porque ela foi sua enfermeira no hospital em que estava, e ela cuidaria dele após essa temporada hospitalar e de recuperação pós operatória, emendando doravante em convívio matrimonial. Dando a entender que esta situação não envolvia nenhum aspecto ou sentimento amoroso/sentimental.
Faz-se necessário ressaltar que este autor em muitas das vezes que conversou com essa mãe e também o filho, alertou-os da relação possessiva entre ambos por parte da genitora. E que lhes foi sugerido que a partir de um certo tempo futuro, se desvencilhassem um do outro, para que suas vidas continuassem sem o ranço do domínio materno.
Só que o filho, como foi tratado de uma forma que fugiu à normalidade sentimental, acostumou-se a depender da mãe para quase tudo em sua vida. Principalmente no aspecto financeiro, onde conseguiu fazer a mãe investir capital/dinheiro, em muitas de suas propostas de vida, montando empresas para que ele a gerisse, mas como não tinha um senso natural de responsabilidade, conseguiu desmoronar-se por algumas vezes.
E foi exatamente nessa situação que este autor falou a ambos da falta de atenção para o que acontecia. Inclusive alertando ao filho que ele deveria buscar andar por suas próprias pernas, isso num sentido figurado, no tocante a não ficar e nem depender costumeiramente da mãe, explorando-a sempre que possível.
O fim da história é que a pobre mãe, hoje, está vivendo isolada num asilo de idosos, onde não lhe é permitida a aproximação com as pessoas com as quais conviveu em quase toda a vida, não deixando nenhuma margem de dúvida que a ação desse filho foi de modo desnaturada, configurando, aí, a indiferença fraterna para com aquela que lhe deu tudo o que teve, tem e terá na vida.
Um desfecho triste, lastimável e infeliz.