Choro infantil: a primeira forma de comunicação da criança.

“Essas são emoções da minha filha e não minhas. Tudo bem ela sentir isso, isso vai passar. Posso resistir a tempestade com ela. Posso guiá-la suavemente de volta a calma. Eu sou seu porto seguro.”

Criança chora porque não sabe falar. Essa frase está gravada em minha memória de tanto ouvir minha mãe repeti-la: “Criança chora porque não sabe falar”. Mainha nunca aguentou ver uma criança chorando. Sempre soube que o choro infantil é algo incompreendido, algo que a criança quer comunicar, mas não sabe como. Por isso, mesmo antes de ser mãe, tinha em mim esse conceito muito consolidado. Precisamos traduzir o que aquele choro está dizendo. E, uma vez mãe, esse sempre foi o meu maior desafio.

Amanda sempre foi uma criança absolutamente dentro dos padrões no que diz respeito ao choro. Logo, chorava por tudo. Chorava por estar com sono, chorava por não conseguir dormir, chorava se estava com fome ou se não queria mais comer. Como sempre disse minha mãe, e eu aprendi a repetir durante o puerpério, quando alguém fazia a bendita pergunta -“Porque ela está chorando?” - eu, um poço de simpatia ambulante, sorria e respondia entre os dentes: “Então...chora porque não sabe falar”. Tudo bem, nem sempre tinha forças para responder, mas pensava, juro que pensava. Vou contar um segredo aqui, o mesmo que outras mães também já confessaram, nem sempre a gente sabe por que a criança está chorando. Parece mentira, mas a verdade é que aquele serzinho que acabou de sair de dentro de você não é você. Por mais incrível que pareça, apesar de ter ficado ligado a você por um cordão por cerca de nove meses, tem vontades e desejos próprios. Lembro bem de quatro episódios de choro da Mamuska que foram, para mim e seu papai Ricardo, absolutamente inesquecíveis.

O primeiro episódio, ainda nas primeiras semanas de vida, cheguei a levar como questão para a pediatra: “Durante a amamentação ela tira a boca do meu peito, vira o rosto e chora. Para de chorar e volta a mamar novamente. Mama, chora, mama, chora, mama, chora...Eu não sei o que fazer, doutora”. A médica olhou para mim, sem saber o que dizer. Depois, respondeu que Amanda estava ganhando peso e com o crescimento dentro do esperado. Que eu continuasse amamentando por livre demanda e que não tinha com o que me preocupar, apenas aceitar que ela gostava de mamar assim... Eu respondi: “Deve ser porque é de gêmeos, quer mamar e chorar ao mesmo tempo, mas só tem uma boca para fazer as duas coisas”. Rimos juntas e voltamos para casa eu e Ricardo aliviados em saber que estava tudo bem e conformados que por algum tempo seria assim.

O segundo desafio de entender por que ela chorava, e se surpreender ao descobrir o motivo, foi logo que começamos a sair mais de carro, aos quatro/cinco meses de idade e ver Amanda abrir o berreiro, do nada, se o carro começava a diminuir a velocidade e parava no sinal. Bastava acelerar e passar de 60 km/h que a criança parava de chorar instantaneamente. Ricardo dizia que ela tinha vindo com um velocímetro e um altímetro instalado de fábrica. Chorava se o carro diminuía a velocidade ou se sentávamos, quando estava em nosso colo. A bichinha só gostava de colo em pé! Bastava nos sentarmos para a criança abrir o berreiro novamente.

O tempo foi passando e fomos conhecendo cada dia mais nosso pequeno grande milagre chamado Amanda. Como nunca demos chupeta seguíamos o desafio de descobrir as causas e tentar soluções para os choros da nossa Mamuska. Um dos mais engraçados era o de revolta se alguém estranho segurava no carrinho dela quando eu estava empurrando ou quando eu resolvia empurrar se o papai estava com a gente. Sério! A criança dava um show! A ponto de as pessoas no shopping não acreditarem no que viam. Só Ricardo podia empurrar o carrinho dela...risos. Eu não podia tocar no bendito do carrinho se o papai estivesse do lado. Era muito engraçado.

O quarto e último, ela tinha pouco mais de dois anos e foi inesquecível para mim porque foi um dos mais difíceis de entender. Ela sempre acordou bem mais cedo do que a gente e depois que parou de mamar no peito, seguiu pedindo uma mamadeira logo que acordava às 6h00. Eu fazia a mamadeira com um olho aberto e outro fechado. Alguns dias ela tomava na cama dela, outros na minha e alguns dias eu cedia aos pedidos de deixá-la tomando a mamadeira deitada no sofá, vendo desenho. Para isso, antes eu tinha o cuidado de forrar o sofá com uma mantinha limpa para ela não deitar direto onde nos sentávamos. Um dia ao fazer isso e entregar a mamadeira pra Amanda ela não subiu no sofá, apenas ficou olhando para ele e chorando sem parar com a mamadeira na mão e eu sem entender se estava em um pesadelo ou tinha me mudado para um mundo paralelo. “Filha, o que foi? O que está acontecendo? Toma a mamadeira, vem se deitar, vou ligar o desenho...” E, nada. A criança chorava, acordando a vizinhança às 6h00 da madrugada e eu sem entender nada olhava e só via a mãozinha apontando para o pano esticado no sofá. Cheia de sono e com o pensamento atrapalhado por conta daquele choro incessante de repente percebo uma dobra no canto do pano...a criaturinha não queria deitar-se em uma manta que não estivesse perfeitamente esticada. Eu estico a manta e ela para de chorar instantaneamente. Eu não acredito e reclamo: “Fala sério, filha! Você estava chorando por causa dessa dobrinha de nada?!”. “Desculpa, mamãe, é que eu gosto de tudo direitinho.”

Fernanda Andrade
Enviado por Fernanda Andrade em 26/02/2021
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