O SAMBA DE COCO DE MIGUEL FELIPE NO SÍTIO DOS SOARES
O SAMBA DE COCO DE MIGUEL FELIPE NO SÍTIO DOS SOARES
Manoel Belarmino
Nos anos de 1930, 1940 e 1950, naqueles sertões de noite em silêncio, escutava-se, de longe, os sons dos pandeiros e as cantorias do samba de coco na casa do senhor Miguel Felipe, no Sítio dos Soares, em Poço Redondo.
Os muitos netos e netas de Invenção de Maria do Rosário do Sítio e do Maranduba se ajuntavam para irem ao samba de Miguel Felipe. Estes eram os mais animados. Os Soares, os Bertoldo, os Vito, os Luto, os Emídio. Todos parentes uns dos outros. Todos descendentes de Maria do Rosário I.
Quando a noite chegava, as moças e rapazes das redondezas do Sítio e do Maranduba rumavam para o samba de Miguel Felipe.
Quase toda semana, ali, naquele sertão caatingueiro dos Soares do Sítio e do Maranduba, acontecia uma cantoria de samba de coco na casa de Miguel Felipe. Na sala principal, os homens e mulheres sambavam no coco do seu Felipe e no terreiro, sob o clarão da Lua grande, as mocinhas e rapazes brincavam de cantigas de roda. Era uma verdadeira festa na singela vida dos sertanejos.
E começava as cantigas do samba de coco, muitas vezes puxadas pelas mulheres:
"Minha mãe mandou fazer
Mariquinha
Um vestido pra eu vestir
Mariquinha
E o vestido era assim, sim
Mariquinha
De babado grande assim
Mariquinha".
E depois pelos homens:
"Você diz que sou maceda;
Eu não sou maceda não.
Maceda é quem mata o gás
Oi, pavio de algodão.
Ói a maceda!
Outra vez
Ói a maceda!
Outra vez
Ói a rapidinha!"
No terreiro, no frescor da noite sertaneja e sob o clarão da Lua, as mocinhas e rapazes, entoavam as cantigas de roda. A moçada ali fazia uma grande roda e as cantigas começavam:
"Você diz que preto é feio
Preto é uma linda flor
É com preto que eu escrevo
Cartinhas pro meu amor
Garça branca, bem branquinha,
Do pescoço de marfim
Vá dizer ao meu amor
Que volte logo pra mim
Lá no céu tem três estrelas
Todas três correm na linha
Corro o mundo feito louco
Atrás duma moreninha".
E era assim o sertão do Sítio dos Soares e do Maranduba antes e depois dos nove anos do Cangaço em Sergipe. Sertão das vaquejadas, das cavalhadas, sertão dos melhores vaqueiros de todo o Sertão do São Francisco.