Carta de um amigo
Tenho uma caixa de madeira. Foi meu presente de aniversário de 15 anos. Assim que a vi, tudo nela me lembrou algo elegante e sofisticado. Por fora, tinha uma aparência rústica, por dentro, tinha um espelho na tampa e forrada com veludo vermelho. Elegi como o lugar onde aguardaria as minhas melhores lembranças e segredos. Eu tinha mania de escrever cartas para meus amigos. Peguei essa mania de uma amiga muito querida, com quem trocava cartas mesmo morando perto. Eu tinha o prazer de ir à casa dela e entregar as cartas pessoalmente. A linguagem escrita sempre me atraiu mais, porque sou introvertida e escrevendo me sentia mais segura para organizar pensamentos.
Pois bem, essa caixa guarda relatos de algumas pessoas que um dia responderam as minhas cartas. Na minha opinião, pessoas deveriam escrever mais cartas. Pelo menos, uma para cada pessoa querida. Eu gosto de ver a caligrafia, ver a evolução das letras, observar onde a letra começa mais forte e onde vai perdendo a força... tem uma carta em especial que sempre me emociona quando vejo, pois ela foi escrita por um amigo muito querido que sempre me ajudou e que era semi analfabeto. Ele copiou alguns versículos bíblicos que falavam sobre amor e no final adicionou uma frase sua, de tamanha inocência que chega a me emocionar:
"Eu ti amor tiao beijo e um abraso a pertado Gisely"
Essa é uma das lembranças mais preciosas da minha caixa. Se me perguntarem porque guardo uma espécie de bilhete escrito com vários erros ortográficos, eu responderei que é porque ele guarda o esforço de um amigo que me tocou o coração ao deixar uma lembrava escrita de seu sentimento.
Ao escrever isso, temo. Não ouço falar desse meu amigo há quase seis anos. Sinto o medo e a angústia de talvez não ter sofrido a perda na hora certa. Me consolo pensando que ele teve o cuidado de deixar algo quase eternizado para que me lembrasse dele.