O Juiz

- Nestes tipos de histórias que são cognoscidas p'elas pessoas mais humildes, soube de uma que acontecera no passado, em uma pequeno povoado do interior das cidades e suas carruagens e comércios de escravos; longe da corriqueira vida. Neste momento, meu neto, a ti orarei-lha.

O juiz sempre foi uma figura imponente em autoridade, em sabedoria e em justiça, por mais que hajam os cleptocratas que blasfemam o nome dos justos. Porém este era diferente, de modo que todos os habitantes d'aquele povoado o sabiam. Era homem íntegro, justíssimo, emeritadíssimo, sapientíssimo e todos os "íssimos" benignos que se pudessem atribuir a ele.

Vivia andando p'elas ruas, aprochegando-se às pessoas e dizendo que seus atos não condiziam com a Lei, e por isso deveriam cessá-los. Muitos ouviam-no, porém um número maior de pessoas ignoravam-no, dizendo que ele orava imprudências e incoerências; que estavam salvos da Lei e que não queriam segui-la; que faziam conforme a sua natureza libertina e pouco se danavam com consequência alguma. Ele sempre dizia: "Haverá um dia em que não vos ajudarei mais; não advogarei por vós, tampouco por suas causas, pois exercerei a função de Juiz, e vocês condenarão a si próprios com suas levianidades ante à Lei".

Chegado este dia, puseram-se em fila reta ante o Tribunal enquanto o Juiz julgava os cidadãos conforme os seus atos. A pena? Prisão perpétua, pois dia após dia Ele saía às ruas avisando que os seus erros os condenariam, mas não deram ouvidos, pois falava isso por anos e anos e nada acontecia... até que houve. Muitos dos povos diziam ainda que o povoado infligia a Lei por culpa do Juiz, que Ele condenava quem queria e livrava quem queria por simples desejo próprio, ainda que o salvo fosse um infrator da Lei, e o condenado, um praticante, que Ele os condenava por ser mau, por ter uma má vontade, ainda que alertasse todos os dias que eles mesmos se condenavam ao não cumprir a Lei, "cavando a sua própria sepultura", e muitas outras sandices sem pé e nem cabeça...

- Mas vovô, é tão fácil de se entender que bastava apenas seguir a Lei e que aqueles que não a seguiam, seriam condenados perante ela, por conta de seus próprios erros! Culpar o Juiz p'elos seus próprios erros é um método covarde de tentar esquivar-se de seus feitos errôneos, não aceitando as consequências de suas próprias transgressões...

- Ah, meu neto, este é o câncer dos tolos: eles estão sempre certos!

Basilium
Enviado por Basilium em 25/02/2021
Código do texto: T7192785
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