A árvore cresce torta quando...
Alceu sempre foi problemático e isso incomodava seu irmão Arlei (agora Arlen), três anos mais velho a quem o destino deu-lhe a sorte de ser adotado por uma família holandesa. Em sua última visita ao Brasil, Arlen se deparou com um impasse político com manifestações de protesto em todas as capitais.
- Domingo vamos para avenida novamente. A ordem é quebrar tudo. Bancos, lojas de bacanas. Se a polícia intervir, vai sobrar pra ela também. Avisou Alceu.
- Você acredita que isso vai resolver a situação? Perguntou o visitante.
- Você não vê problema porque mora na Europa, ‘filho’ de gente rica, não lhe falta nada...
- E por que abandonou a faculdade que eu lhe pagava?
- Estudar com esses professores esquerdistas? Que fingem estarem sensibilizados com a falta de emprego, de moradia? Com nossa cor? Você sabe como nosso pai morreu e mamãe não consegue se aposentar. Só tem 6 anos de contribuição como doméstica. Acorda brother!
- Mas sem estudos o caminho fica ainda mais difícil...
- Tenho promessa de ser assessor, segurança, motorista ou coisa assim de um candidato. Vou dar uma guinada na minha vida...
- E qual é a garantia desse emprego?
- Palavra, brother. Aqui vale a palavra.
- De político brasileiro?
- Esse é diferente. É da comunidade. Do povão...
Anos depois, Alceu ligou para o irmão pedindo ajuda financeira. Conseguira o auxílio emergencial do governo federal, mas o banco destinado a fazer o pagamento estava interditado por conta do Covid-19.
- Brother, socorro aí! Não deu pra pôr a mão na grana e a Jú tá pra ganhar nenê de uma hora pra outra.
- Mando sim. E o emprego prometido? Se elegeu? Não viu mais ele? É... Você serviu de massa de manobra! Não sabe o que é isso? Um dia lhe explico. Esse banco não é o mesmo que você ajudou a depredar? Ah, sim! E agora lamenta por estar fechado... É mano, quando o vento sopra só de um lado a árvore cresce torta. Boa sorte! E que o nenê nasça saudável.