A beleza e o assédio
Li um ensaio autobiográfico da escritora Fernanda Young sobre as questões do feminino e do masculino. Gostei. Um livro honesto sem grandes pretensões conceituais, nem por isso é um livro raso ou sem erudição. O livro se chama "Pós-F: para além do feminino e do masculino". Para quem gosta da temática recomendo. Sua abordagem acerca da beleza no universo feminino me chamou à atenção na leitura. Ela afirma que história da beleza feminina anda de mãos dadas com a sedução e o assédio. Um segredo ancestral que acompanham as mulheres. Aliás, como diz a escritora, um antigo segredo muito bem guardado que beneficiou as mulheres, mas trouxe também prejuízo. A beleza, a sedução e o assédio entendida num processo dialético com vantagens e desvantagens, mas sem a vitimização. O assédio no contexto da beleza e da sedução, para Fernanda Young, em nada tem haver com coação e insistência não concedida que é geradora de violência. No entanto, o assédio é parte do "jogo" a onde existe beleza e sedução, afirma a escritora. A beleza na mulher tem uma complexidade que está para o além do moralismo, isso não significa que a mulher tenha que abrir mãos dos seus direitos legais de proteção ao seu corpo e dignidade. A escritora se posiciona sempre dialeticamente. Um único momento em que a escritora não foi dialética, foi quando afirmou que a mulher, como tecnologia humana corporal, é mais bonita e interessante que o homem. E as artes sempre souberam disso há muito tempo. A escritora insiste, nas artes e na vida real, a beleza da mulher sempre foi assediada. Beleza e assédio geram muitas discussões. Perde-se também muita energia neste debate, diz Fernanda Young. Para a escritora, as mulheres deveriam se fortalecer com a beleza e ganhar territórios, mas sem fazer disso uma obsessão muito menos constituir sua única forma de conquistas pessoais ou de identidade. A beleza pode atrapalhar? Sim, tudo pode atrapalhar; finaliza Fernanda Young. Sempre dialética. Gosto de pensar assim também.