Melhorando a comunicação
Na década de 80 eu trabalhei vários anos como carteiro, não havia; PC, Tablet, Celular e todos seus adventos como WhatsApp, Messenger, Instagram e por aí se vai, a comunicação era puramente pela escrita, carta e telegrama. O carteiro nessa época era uma figura nostálgica, quase parte de todas as famílias, os que como eu trabalhavam nas periferias, geralmente conheciam quase todos os clientes por nome e estes também o conheciam por nome. Ele era ansiosamente esperado nos portões: - Carteiro, chegou carta para mim? Chegou carta da minha mãe?
Em um bairro que trabalhei, Jardim Três Estrelas, no Capão Redondo, havia várias famílias de Lagarto, um município de Sergipe, as cartas vinham, às vezes sem o número da casa, o nome da rua e outras coisas mais, mas mesmo assim eu fazia um esforço e na maioria das vezes conseguia entregar, perguntava para as pessoas: - Você conhece fulano, é de Lagarto também? E findava por encontrar a pessoa. Eu tinha prazer em conseguir localizar as pessoas, porque sabia que era a única forma que tinham de se comunicar com seus familiares que viviam longe.
Certa vez fui cobrir as férias de um colega no jardim São Bento e eis que chega uma carta com os seguintes dizeres: “ Esta vai para Ó.X ô seje, Ontoim Xofé, Rua 53, jardim São Bento”, mostrei a carta aos colegas e ao meu monitor, e eles riram muito, e o meu monitor disse: - Devolva ao remetente. Então eu falei: - Não, vou tentar entregar! E o meu monitor retrucou: - Mas você nem conhece o distrito direito. Mas eu vou tentar, respondi. Eu comecei a ordenar as cartas por número e encontrei duas cartas que vinham da mesma cidade, então eu juntei esta carta sem o número às outras duas e fui fazer as entregar, ao chegar no local era um bar, falei com proprietário: - Tenho duas cartas para o senhor. E ele respondeu: - Ah, que bom! E eu aproveitei e mostrei a carta do O.X para ele: - O senhor não conhece esta pessoa, é da mesma cidade que vem sua carta? E ele olhou para o nome e disse: - Não conheço. Havia dois rapazes jogando sinuca e vieram ver a carta, então um deles disse: - Sim, macho, é Ontoim filho de Noca, homê, é que aqui ele trabalha de camelô no Largo Treze, mas lá em Cansanção das Aroeiras ele era Xofé! Pronto, entreguei a carta.
É, a tecnologia chegou para ficar e melhorar o mundo, mas lá no fundo do coração sempre dá aquela nostalgia, ah se dá!