LUSCO-FUSCO
LUSCO-FUSCO
Hoje o dia seguia lindo, majestoso, manhã e início de tarde de céu azul divinal, mas eis que nuvens surgem, pesadas, escuras, carregadas e rapidamente se faz noite, mesmo em meio a bela tarde a chuva chega, tempestade, relâmpagos precedem trovões, outro espetáculo da natureza, luz e escuridão em compasso preciso, harmonia em essência, então, a chuva cessa e as nuvens abrandam sua fúria e se mesclam ao fim de tarde gerando um Lusco-fusco triste, cinza, sem o brilho da tarde de sol ou a força envolvente da noite que abraça... meu pai dizia que passarinho LIVRE odeia o Lusco-fusco, não sabe se voa ou se dorme... não gosto do Lusco-fusco.
Como é estranho, como tudo fica diferente quando se sabe, se compreende... tudo fica mais triste, a própria tristeza parece mais triste.
O fato é que quando se sente que se sabe, é como a tênue diferença do deprimido e do depressivo, é ser e não apenas estar, é o upgrade da sensação... é sentimento.
E esse sentimento é resultado, não é circunstancial, é a ordem das coisas, é o estado das razões que movem o todo e nos comprime, esmaga.
E esse todo, passa longe de ser uma questão de caráter humano atual, bom e mau... sempre haverá o que morreria por um nobre ideal tanto quanto o que mata por simples prazer, esses extremos são o equilíbrio, é a luz que combate as trevas...
O problema real está no Lusco-fusco, esse apócrifo SER mais ou menos, essa maioria que sabe, vê, ouve e prefere não compreender.
Um todo mais ou menos... honesto, abnegado, sincero, gentil, fraterno, um quase empático... lista enorme de mais ou menos...
Quando você passa da percepção para a compreensão do quanto se está inserido a esse plano de quase ações sem convicções, e de repente fica exposto o tamanho da pretensão, você entende que é tudo interesse, por si próprio e quando muito, pelos seus mais próximos, pares.
Mas o que choca é que se fez natural ser assim, interesses movem o mundo a máquina e a massa, da mais simplória necessidade básica aos sofisticados e elaborados motivos...
Difícil é admitir, é se olhar no espelho e ver com clareza o que moveu de fato os pretensos valores, que por sua vez moldou as ações e opiniões, saber que não é do JUIZ a sentença como do carrasco o JUÍZO , que a larga avenida da LEI para todos, tem estreitas vielas de JUSTIÇA para poucos;
Não, para isso é preciso aceitar a LUZ que cega e ver nos olhos a própria escuridão... não, para isso não dá para ser Lusco-fusco.