O Mar Curandeiro


Vi o mar regurgitar plantas, musgos, pedaços de pau e pedras, e restos de peixes. A maré ontem não vazou e pensei que isso tem a ver com a lua. Ficou alto, sem dar chance da gente passear por ele, na beira da praia. Por certo, não queria ter o trabalho de apagar nossos passos na areia. Eu entrei nele assim mesmo, pisando em tudo que ele devolvia à terra, confiante de que não me encontraria com uma água-viva. Passei pelo trecho ruim de água misturada a restos de vida e depois encontrei somente água boa de curar a alma. Sei que as feridas da pele e da alma se beneficiam com essa mistura misteriosa que é o mar. Depois que saí desse unguento colossal, sentei na praia e fiquei observando... daí a um tempo ele pegou tudo que havia regurgitado. Engoliu de novo. Deve ter uma boa explicação para isso, coisa que os cientistas, de tanto perguntarem "por quê", já têm a resposta. E eu fiquei pensando que a gente tem algo a aprender com isso. A minha escrita é pura catarse. Minh'alma regurgita tudo que pensa em palavras. E, depois, pega tudo de volta pra tecer minha vida. A poesia vive em mim e eu, nela.