ZARCO NA RIBALTA
«Entrevista do Poetariado a Xavier Zarco»
Apreciei, ó Xavier, a sua performance no distinto Evento em que participou - a entrevista aos nossos «companheiros de negócio» brasileiros.
Correu muito bem e, o meu amigo, em todas as questões que vieram à cena, foi incisivo e rico nas abordagens. Claro que, dentro do seu evidente interesse e prazer, remou largamente na onda de Alexandre O'Neill, poeta que eu também aprecio. Na minha opinião, talvez pudesse ter ido um pouco mais além, na sua circunstância de leitor de O´Neill, mas relevando, todavia, a sua própria identidade de poeta - a do Xavier, claro. Talvez por influência dos interlocutores, não? Foi essa a sensação que me ficou. No restante, considero que esteve excelente.
O que eu mais realcei, como altamente positivo, foi: a) o seu claro testemunho, acerca do que é ser poeta e do papel da poesia, em geral; b) a não contradição entre ser editor e ser poeta; c) o papel destas duas entidades na sua intervenção social e política; d) as contradições marcantes / condicionantes, no âmbito do mercado dos livros: e) e, finalmente, a distinção entre prosa-poesia, com a segunda (apesar de secundarizada) a ter um papel de pura essência, contra a banalidade da primeira: daí esta se vender mais! Foi ao encontro daquilo que eu, há vários anos, venho a salientar com persistência.
Constatei de modo muito especial a antinomia que usou: prosa, expressão do instante; poesia, a intemporalidade dói...
Concluo, com a minha dúvida: será a Poesia a mal-amada dos escaparates da mente? Quem sabe? Por isso é que vende pouco!? E, finalmente, concordo, apesar da água do discurso, em que «os poetas devem dar voz aos que a não têm!».
Gostei. Os meus parabéns, Xavier.
Um cordial abraço do poetAmigo Frassino Machado
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TRÊS POEMAS SUGESTIVOS ...
SONETO INGLÊS COM A ARANHA DO FORTE
E O PACKARD DO CESARINY DENTRO – Xavier Zarco
Trouxe do forte a aranha no cabelo
e, passando na rua do ouro, vi
brilhar no olhar do Mário, com desvelo,
a sombra do Packard que por ali,
em tempos, passou, penso no que pensa
a aranha e o homem, esse que venceu,
fico-me pela aranha, vai tão tensa
porque esta sabe que o outro já morreu,
e a aranha não tem ar de suicida,
no meu cabelo um fio a prende ao fio,
mas vai tensa, ser musa é dar a vida
por um verso, e bem sabe que há um rio
que o poeta na folha quer traçar,
logo agora ao volante de um Packard.
Xavier Zarco
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A NOITE É UMA ORQUESTRA DE GRILOS – Xavier Zarco
a noite é uma orquestra de grilos
na voz das águas
das ramagens
há um coro de sombras anichado
entre as moitas dos uivos
moldadas pelos ventos
e o medo é uma sirene
grita
na corola ferida do silêncio
mas a janela abre-se
convida a noite a entrar
não se resigna a ser moldura
onde a paisagem se entrega
a qualquer olhar
oferta-lhe farta mesa
e cama de dossel
para que a criança
enfim se renda ao sono
nos braços da sua mãe
Xavier Zarco
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O DESTINO DA POESIA – Xavier Zarco
“Ó subalimentados do sonho
A poesia é para comer!”
Natália Correia
Senta-te nesta mesa onde o poema
Como a vingança
Frio se serve
Sabes bem que um verso come-se
E partilha-se
Não se guarda
Guardar é esquecer
Porque um armário na memória
É um túmulo um sarcófago
E não há arqueólogos de versos
A decifrar as entranhas
Da alma desabitada pelo sonho
Assim senta-te nesta mesa e sê
A boca onde a voz surge
Com asas de poesia
Xavier Zarco
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