"SOU PELO MENOS... 48" !!!
"SOU PELO MENOS... 48" !!!
"Obstáculos são aquelas dificuldades
que você só vê quando tira os olhos
de seu objetivo."
HENRY FORD (texto adaptado)
Antes que alguém conclua que "estou saindo do armário" embutido, de madeira de lei, explicarei o título dessas "memórias", que são DE CAPOEIRA, mais precisamente sobre a "via crucis" que foi nossa Exposição itinerante, que visitaria entre 14 e 16 colégios -- EPs importantes de Belém -- durante o final de 1991 até meados de 1992. Entram "na lista" também o Bosque R. Alves, o famoso Museu Goeldi e, em março ou abril de 93, de novo o CENTUR, durante Simpósio nacional sobre esportes, (*1) com a presença de ministro da República, graças à gentileza do professor Carlos (ou Paulo) Maneschi, organizador do evento. A TV L IBERAL esteve lá, diante dos nossos painéis, entrevistando Carlos Nuzmman, com imagens da Capoeira indo pro país inteiro, via TV Globo. Mais CONTRIBUIÇÃO do que isso... impossível ! Onde estavam "os nomes maiores" dela nesse período ? Ninguém sabe, nimguém viu !
Quanto ao título desta crônica, surgiu num Jeep durante a viagem de simpático pároco da cidade de Vigia, em 1984 -- meu primeiro ano no Pará -- para vilarejo próximo. Lá presenciei um pedreiro rebocar sozinho numa tarde 1 quarto interio, 3 paredes e meia, descontadas porta e janela. O "polonês" Padre Eugènio, jovem e ativo, acabou mal falado, depois que expulsou coroinha que lhe "afanara" teclado eletrônico que, aliás, eu lhe vendera. O CASIOTONE de palmo e meio era a "oitava maravilha" do Mundo. Porém a família, espezinha com a audácia do sacerdote, optou pelo caminho fácil da difamação. As queixas do padre com referência ao seu ofício dariam alentada crônica -- se não fssem confidenciais -- mas êle se sentia um "contador".
-- "Padre é para tratar da alma... não podemos cuidar das velas que faltam ou do vinho que acabou" !
E emenda, revoltado, com a maledicência do povo:
-- "Imaginem, eu... "24" ! Sou tão genial que sou pelo menos "48" !
Pronto, explicado o título da crônica passemos às agruras da Exposição nas Escolas, despesas por nossa conta, uns 20 quilos de ferragens e outro tanto em compensado de 4mm. Em alguns colégios, um saía para almoçar em casa, trazendo a "marmita" do que ficou cuidando do material, hora e meia de ônibus, na ida e na volta... e o retorno de ambos, depois. Na maior parte das EPs - escolas públicas, frustrados e desiludidos com a "visitação", recolhíamos tudo lá pelas 13 horas, aturdidos com o DESINTERESSE do alunado pelo assunto.
Somando todas as visitas nas 14 ou 15 EPs -- duas na Cidade Nova, onde ainda moramos -- não chegaram a 30 os jovens que realmente apreciaram a Exposição, tão-somente visual, falha nossa, não havia textos. Contudo, escolhemos imagens mostrando a Mulher na Capoeira, a criança e o Negro também, fotos de capas de livros e discos, além das de Bimba e Pastinha. Dos mestres e professores locais quase nenhuma, era fato raro aparecerem na Praça da República, onde a maior parte dos registros foi feita. "Contratamos" fotógrafos que nela circulavam... podiam registrar qualquer Roda (caso a gente não fosse) que pagaríamos no domingo seguinte. Nunca poupamos despesas, se um Jornal publicava algo ficávamos com meia dúzia, além das "páginas extras" cedidas por nossos fregueses. Esse "excedente" era enviado -- via Correios, uma desgraça -- para boa parte do país, com mais despesas. CONTRIBUIÇÃO é isso ! (*2)
Mas vale a pena fechar o texto co algumas "passagens" que nos sucederam... no Museu Goeldi, num baita feriado de outubro ou novembro/91 achamos que ía "chover turistas". Instalados num "platô" lateral ao corredor de entrada, passamos a manhã toda sem outros visitantes que não fossem macacos ou passarinhos. Lá pelas 14hs surge um casal e a filha, canadenses... "desenferrujei" meu "Ingrêis", o filho era "capoeira", levaram foto da Exposição para êle, em Otawa.
Já no Bosque Rodrigues Alves, na Semana da Criança, o ingresso não era de graça como pensávamos... felizmente o pai de um aluno "arcou com o prejuízo". Nossa conclusão foi que a Capoeira da época parecia não ter o menor prestígio, EPs com 400 ou 600 alunos simplesmente ignoravam os cartazes, caso do Orlando Bittar e do Souza Franco. No Vilhena Alves recusaram, fizemos na grade externa, "na marra". (Deram azar, na noite seguinte haveria Roda lá, com Grupo de nosso bairro... "entramos de carona" no evento, nos colocaram numa saleta, só que NINGUÉM foi ver!) No chiquérrimo Colégio Nazaré, classe AA, era semana junina e os painéis causaram espanto ! Recepção com esse nome, apenas no Colégio Anchietinha e no Curso Cearense... no primeiro, além de lanche, nos convidaram a voltar no dia seguinte, por gentileza da professora Roseli Souza, que me conhecia enquanto poeta e trovador.
Nos 2 colégios do nosso bairro, semana inteira da tradicional Feira da Cultura, não quiseram a Exposição e montamos os cartazes do outro lado da rua. Tudo findou em Marituba, lá por setembro de 1992, no Colégio Ferrari, com igual fracasso ! Antes que pensem que bancávamos os "bandeirantes", saibam que cada Escola recebia ofício do CCCP consultando sobre o interesse da EP em receber a exposição e qual a melhor data para isso... 5 ou 6 telefonemas por escola, telefone público de cartão, que durava 90 segundos cada chamada. Enquanto isso, os "2 MAGNÍFICOS" dormiam sobre a fama que fizeram, não se sabe como !
"NATO" AZEVEDO (em 21/fev. 2021, 15hs)
OBS: (*1) - aproveitamos os 3 dias do Simpósio de esportes para exibir filmagens de Capoeira (em fita VHS) além do registro em Super8 sobre o Grupo SENZALA carioca, filmagens de 1975/77... sem nosso consentimento desmontaram às pressas a Exposição ao meio-dia, deixando os painéis sobre poltrona no Hall. Devido a isso, perdemos 6 ou 8, com perto de 30 fotos, algumas raras, sem cópia. Estão "por aí" !
(*2) - a "Capoeira se reinventa" a cada dia... soube que, por volta de 2000, autor de livro (ou tese) -- que nem sabe de que lado se pega num berimbau -- receberia título de MESTRE por parte de um "MegaGrupo", expressão usada em Belém. Por aqui, pesquisadora (?!) que não se via seguramente em lugar nenhum pretende escrever sobre quem "não se viu" em praticamente lugar algum, isso em 30 ou 40 ANOS "de presença" mas não de vivência nesta mesma Capoeira.
Embora meu comentário se refira a um, vale pro outro, pois eram exatamente iguais "em quase tudo" ! "Capoeira É O JOGO na Roda"... quem não participa dele/dela não devia fazer jus ao título de mestre e só a velhice extrema (ou doença) desculpa a ausência.