Duas Estrelas
Das poucas coisas que chamavam a atenção de William na escola, com certeza o pequeno observatório era a sua preferida. Havia à disposição dos alunos, um pequeno telescópio com zoom suficiente para ver alguns planetas, e as vezes com certa nitidez, a lua.
Era seu espaço preferido, e não poucas vezes, fazia questão de ir lá tentar fazer observações. No período em que Alessandra (a garota que ele gostava) entrou na escola, ele desconhecia o interesse dela por astronomia, por isso se assustou quando a viu se aproximar timidamente perguntando:
— Qual planeta você está vendo? — Ele congelou um pouco porque não esperava uma abordagem tão diretamente. Com poucas palavras respondeu "Estou tentando achar Titã... mas está difícil..." Ela parecia mais interessada no aparato do que em conversar, coisa que ele mesmo notou e talvez por isso não respondeu com muitos detalhes, isso para examinar as reais intenções dela.
— Mas esse é um equatorial, você só não deveria seguir as coordenadas? Ou tem alguma coisa atrapalhando a visão? — Ela questionou, sugerindo que talvez ele precisasse de ajuda.
Essa última frase foi decisiva para William tirar duas conclusões, a primeira era de que Alessandra possuía certo conhecimento em telescópios, e talvez soubesse até mais que ele. Segundo que ela não estava interessada em conversar com ele, mas sim interessada em observar mexer no equipamento.
Embora tenha se surpreendido pela menina que ele gostava ter conhecimentos em um assunto que ele também gostava, em nenhum momento pensou usar isso como vantagem para se aproximar dela, antes, procurou dar privacidade para que ela também pudesse usar o equipamento.
— Na verdade, eu não sou muito bom com telescópios, esse por exemplo está com a base frouxa... Você por acaso quer tentar observar alguma coisa? Eu acho que me enjoei e vou passear um pouco...
Ela ficou animada em poder observar também as estrelas, William por sua vez se afastou do equipamento e disse que ela poderia devolver para o depósito da escola quando acabasse de usar. Enquanto ela se esgueirava para fazer observações, ele se afastou alguns metros e deu espaço para que ela operasse com mais liberdade.
Não era a primeira vez que aquela estranha menina se aproximava dele com alguma coisa em comum, e isso o estava perturbando ao ponto de até mesmo não dormir a noite. Embora ele se demonstrasse superficial na frente dela, a verdade era que as vezes mal conseguia conter a vontade de conhece-la mais. Porém, isso ele evitava, ele não queria se envolver com ela pois tinha medo. Medo de se apaixonar perdidamente, e talvez ser rejeitado, como já houver acontecido antes com ele. Seu plano era apenas evita-la até que essa paixão sumisse, porém isso parecia uma tarefa impossível.
Alessandra estava aparecendo em muitas atividades que ele também fazia, seja no xadrez, clube de Inglês, biblioteca e agora na Astronomia.
Parecia que quando ele queria se afastar, alguma coisa acontecia e ele se via perto dela novamente.
O destino tem suas formas estranhas de trabalhar, se talvez ele tivesse deixado seus sentimentos fluírem naturalmente, então algo aconteceria para que ela se afastasse dele. Mas uma vez que estava determinado a não se machucar sentimentalmente, tudo parecia cooperar para que ele se envolvesse com ela. Agora era só uma questão de quem cederia primeiro, a razão, ou o coração dele?