O amor ao próximo e a honestidade
Acordei nesta manhã e fui até a loja de ração comprar alimento para o Felipe, meu peixe, um Apaiari tigre de 27 cm. Pensei que seria mais uma compra automática, sem consequências, mas não foi assim: O jovem, que me atendeu, empacotou dois frascos de ração, um rolo de fio de plástico e fez as contas numa calculadora. Eu paguei, agradeci e saí da loja. Não andei mais do que 500 metros, e minha consciência começou a piscar. O garoto havia deixado de contabilizar um dos frascos de ração e isto deflagrou uma guerra dentro de mim. As discussões entre razão, consciência e o coração não cessavam.
– Esta é uma terra de exploradores, sempre foi. Gente que só está aqui para tirar o que puder e levar. Um país de ladrões. Até vacinas, respiradores que podem salvar vidas, eles roubam. Preciso devolver o pote não cobrado. Preciso fazer a diferença e mostrar que tem gente honesta neste país!
– Não! Não sinto que deva devolver, pois, é pouco, muito pouco! Nem fui eu que errei na conta!
– Não, não preciso ficar com aquilo que não é meu! Só quero o que é meu, por direito!
E assim, retornei à loja, acertei o valor e quando já estava para sair, o comerciante chamou o garoto que havia me atendido e humilhou-o publicamente. Eu, entretanto, ao tomar consciência do erro que havia cometido e da minha total falta de consideração pelo que poderia acontecer com o jovem empregado, tentei consertar.
– Não! Não quero que o garoto seja prejudicado! Erros de conta acontecem... e... por favor... deixe o garoto! Aconteceu! Foi um mal-entendido, só isso!
Eu havia entrado naquela loja com a bandeira da honestidade hasteada, com um heroico brado retumbante e saí derrotado. Estava tão embriagado pelo dever de ser honesto que me esqueci totalmente da vulnerabilidade daquele garoto que pode até perder o emprego. (Walter Sasso)