O circo chegou!

O circo mais uma vez esta na cidade, trazendo seus palhaços e sua tenta de lona enorme.

Para tampar o que não poderemos mais ver.

Entramos todos lá dentro daquela caixa com as luzes apagadas.

Esperando uma voz, um sinal de vida, alguma coisa que nos de inicio,

Mas nada acontece...

E ficamos ali por algum tempo, ate que uma luz se acende ao meio do picadeiro, revelando quem é o locutor daquele espetáculo; um padre ou um vereador. Um prefeito talvez? Que ira nos dizer o que fazer?

Mas nos já sabemos: temos que ficar todos sentados em fila, ou talvez em pé quando mandarem!

E assim o espetáculo começa!

Com cantoria e gritaria; gloria e vitoria...

Os primeiros a se apresentarem são os mágicos com seus truques de tirar o fôlego, enquanto escuto de um ou outro:

_ Nossa! Nunca tinha visto esse numero! É muito bom!

O mágico percebendo que esta causando alvoroço na multidão seus números vão ficando cada vez mais complexos...

O que antes se fazia aparecer, agora já some sem vestígios e não tem como saber para onde foi tudo aquilo que estava ali, bem diante de nossos olhos há poucos segundos atrás.

Mas não é isso que é uma boa mágica?

E assim se prossegue o espetáculo...

Por volta e meã aparece em nossa frente uma mulher muito bem vestida com uma bandeja de coisas que já temos, mas como estamos no circo não nos lembramos disso e acabamos comprando mais do que podíamos de coisas que já tínhamos aos montes em casa.

Ouvi-se uma voz pelos alto-falantes:

AGORA COM VOCÊS, E PARA SEU DELEITO! ELES QUE SÃO OS MELHORES NA ARTE QUE FAZEM...

COM VOCÊS!

OS MALABARISTAS...

Com suas roupas justas mostrando o vigor de seus corpos, eles começam a jogar coisas uns para os ouros. Demonstrando muita pericia em cada movimento, que tem de ser preciso, para que nada dê errado em sua apresentação. Tochas com fogo; espadas; arcos de ferro. Tudo o que for possível para chamar atenção do publico que esta ali os observando da arquibancada.

Porem o show de malabares não demora muito para se encerrar. Uma lastima, pois o publico estava começando a ficar entusiasmado com o numero.

Ás luzes se apaga pouco depois que saíram, causando um pouco de espanto e suspense no publico pagante... E mais uma vez aquela voz se encarrega de tomar conta de nossa imaginação, pois anunciara a nova próxima atração.

SENHORAS E SENHORES, SEM MAIS DELONGAS A NOSSA PROXIMA ATRAÇÃO... ELA QUE VEIO DOS MAIS PAIS QUE POSSAM IMAGINAR, E TRAS COM ELA SEU MASCOTE.

Nesse momento começa a se ouvir estalos de chicotes cortando o ar...

_ O que é isso?

_ O que pode estar acontecendo lá dentro?

Pessoas que estavam a minha volta começam a se perguntar, a cada vez que o barulho do chicote estala mais alto, e mais alto, e mais alto...

Escuto de longe alguém quase gritando com as mãos no peito: _ Meus Deus? O que é isso?

Mas logo nossa curiosidade é desvendada... As luzes se acendem mostrando apenas uma cadeira vazia no meio do picadeiro.

Agora alem do suspense veio a curiosidade para saber o que aquela cadeira esta fazendo ali no meio.

Todos se entre olham, tentando um achar no outro a resposta para aquela pergunta. Mas quando por enfim, entra uma mulher e se senta naquela cadeira, mas todos, como eu, pensam: se é somente isso para que aquele suspense todo do inicio?

Mas quando nos damos conta, a mulher começa a ser rodeada por panteras, leões, leoas, enfim, de todos os mais perigosos felinos do reino animal, bem ali, deitados aos seus pés. Posso re parar que nenhum dos olhos que vêem aquela visão é capaz de desviarem seus olhares para qualquer direção. Todos estavam atentos para o que poderia acontecer em seguida. Mas enquanto isso ela ficava ali sentada confortavelmente em sua cadeira rodeado por aqueles mais ferozes felinos que poderiam existir.

Mas por fim o silencio foi quebrado por um estalar de seu chicote, jogando a cadeira para mais longe, ouve-se um ou dois tambores soando ao longe. Então aquela mulher vai ate mais perto da arquibancada que ficava mais perto e perguntou um por um que estava ali:

_ Quem de vocês teria coragem de acariciar meus bichinhos? Quem? Você? Ou você?

Mas nenhum dos homens ou mulher que estavam em sua frente teve coragem de dizer nada, apenas ficaram olhando ela continuar a perguntar: Quem tem coragem? Você? Você?

Então seu chicote começou a soar no chão com força, e com força a cada pergunta sem resposta. Ate que aqueles animais que estavam calmos começaram a rugir cada vem mais alto com o estalar do chicote. Ate que todos já estavam de pé andando de um lado para o outro, rugindo, sem mesmo precisar ouvir o chicote da mulher. Quando se pode perceber o picadeiro já estava sendo tomado por aquelas feras revoltas.

_ Ninguém tem coragem de encarar meus bichinhos? Ela pergunta enquanto volta para o certo do palco.

Sem precisar do chicote e apenas com um grito, todos os animais voltam para perto dela e novamente se sentam perto de seus pés. Todos os que estavam ali não podiam compreender o que estava acontecendo, mas em suas cabeças viam pensamentos de que aqueles animais já eram adestrados para fazer aquilo e que aquela mulher não teria controle nenhum sobre eles. Pois bem, ate poderia ser, ate o momento que aquela mulher pega novamente sua cadeira e se senta mais perto dos animais.

Com um sorriso irônico em seu rosto ela fala para que todos pudessem ouvir:

_ Meus bichinhos somente obedecem ao comando e quem tem coragem, e eles sabem quem é que manda aqui! Enquanto dizia aquela mulher abriu seus braços em forma de poder, quando os baixou o estalar de seu chicote foi o mais forte e alto de todos os que ela já teria despejado ate então, com isso fez com que todos aqueles animais começassem a rugir mais alto e com mais vigor do que antes.

O fim daquela apresentação ainda não estava no final, o mais surpreendente foi quando ela se levantou da cadeira e sentou nas costa do leão, o rei dos animais, e saiu do picadeiro acenando para aqueles que estavam ali presentes assistindo aquele espetáculo ate desaparecer por trás das cortinas.

Por alguns instantes não se ouvia nada, nem um suspiro ou gemido vindos do publico. Mas os instantes não foram muitos, pois logo todos começaram a aplaudir o que acabaram de presenciar; a coragem daquela mulher incrível.

Antes mesmo dos aplausos pararem, entra em cena um carro que mais parecia ter saído do ferro velho mais próximo do que poderia ser alguma apresentação para o circo. Uma nuvem de fumaça escura começa a sair daquele carro, parecia que iria começar a pegar fogo de uma hora para outra, mas nada disso, tudo faz parte do truque. De repente; um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete pessoas saem do carro, rindo e brincando com o publico que estava nas arquibancadas mais perto deles.

Uns de macacões coloridos, outros de bermudas coloridas e rasgadas e outros usavam causas alguns números maiores do que o que realmente vestia. Seus sapatos eram de cores diferentes também: alguns eram vermelhos, outros eram pretos, outros ainda era a mistura de todas as cores possíveis. Suas camisas eram todas pretas com o logo do circo. Mas porem aqueles cabelos coloridos e aqueles narizes vermelhos não teria como não saber... Era a vez dos palhaços entrarem em cena.

Apesar de seu numero não ter muita diferença entre os que eu já teria visto em outros espetáculos, teve um momento que achei que compensou ter esperado ate o final daquilo tudo.

Quando sua apresentação estava quase no final, um daqueles palhaços começou a se aproximar mais das pessoas das arquibancadas apertando a mão de cada um que estava em sua frente, não importava quem seria ele estava ali para fazer exatamente aquilo, e não deixaria nenhum que pudesse alcançar para trás.

Depois de ter percorrido boa parte do seu caminho seus colegas de profissão começaram a arrumar uma mesa bastante improvisada com as peças que se soltaram do carro durante a apresentação. E depois de tudo arrumado, nenhum deles se escondeu para terminar de se arrumar, vestindo um terno com suas gravatas tortas. Tudo fazia parte do show, e o show teria de continuar...

Aquele que apertava mãos se sentou bem ao centro da mesa. Pegando o microfone que já estava posicionado para ele falar. E então começou seu discurso...

_ Senhoras e senhores que estão aqui hoje! Não se preocupe, pois o que tenho para falar não vai demorar muito, pois já tomamos mais do que deveríamos do seu tempo precioso. Mas o que quero lhes falar é sobre um caso que já é do conhecimento de todos. Podem ficar despreocupados, não vou pedir votos! Mas ao contrario disso gostaria de abrir vossos olhos para o que esta realmente acontecendo hoje; agora! Nosso dinheiro esta sendo usado para comprar vestidos e carros de luxo, casas, mansões cujo quartos são maiores do que esse palco que esta aqui em sua frente. Porem nenhum de nos dirigem esses carros ou moramos em algumas dessas mansões, então, porque estamos pagando por uma coisa que não é nossa? Quando nos mesmos, ás vezes, não temos nada para comer ou para dar aos nossos filhos? E ainda acham justo terem aumento de salário quando bem querem?

Nessa parte o locutor é interrompido por um de seus colegas, dizendo:

_ Mas senhor meu querido colega! Vossa excelência sabe muito bem como é difícil poder administrar um pais! Por isso precisamos de toda ajuda possível dos contribuintes. Para que nossa luta seja mais justa!

Enquanto isso todos os outros que ainda estavam sentados começam a aplaudir e acenar em aprovação com a cabeça.

Outro se levanta para falar.

_ Temos nossos benefícios, temos nossas mansões, temos nossos carros importados, temos contas em paraísos fiscais, nossas famílias gastão milhões de dólares em compras. Sim. Não vou negar. Mas esse dinheiro que gastamos é um dinheiro honesto que veio do suor do nosso rosto para ajudar a população no que ela mais precisar!

_ E o que o povo mais precisa meu companheiro? Pergunta o que começou seu discurso.

_ Ora essa! O povo precisa de carnaval! O povo precisa festejar! O que seria mais do que isso?

_ E que tal saúde, educação ou de melhores condições para seu sustento?

_ Ah! Mais isso meu companheiro o povo consegue fácil, o que mais tem no Brasil são escolas, hospitais e empregos. E tudo isso graças aos nossos esforços, meus e dos meus queridos companheiros aqui de bancada.

Outra vez os outros homens que ainda estavam sentados começam a aplaudir com mai entusiasmos, balançado com mais firmeza suas cabeças aprovando cada palavra dita.

_ Estão vendo minhas senhoras e meus senhores o que queria lhes dizer? Não precisou muito para que a verdade aparecesse bem diante de seus olhos, bem aqui está, o futuro da nação!

_ Se não tem mais nada para dizer, então vamos dar esse debate por encerrado! Mas antes que eles pudessem começar a levantar, alguém do fundo da mesa se levanta e grita: _ Eu quero falar!

Todos os outros começam a cochichar...

_ Boa noite! Tudo bem com vocês? Meu nome é Zé, Maria, João, Pedro, Tereza, Manel, Antonio, Carlos, Ana, Joana, Francisco... Entre outros nomes, pois tenho tantos que fica ate difícil de dizer todos. Mas todos nos queremos falar, e queremos que os companheiros nos escutem, e nos escutem com atenção! Não temos medo do que pode acontecer de agora em diante, não temo vergonha do que já se passou, o que nos temos é uma coisa que esta escondida bem no fundo de nossos corações e que os senhores meus companheiros já sabem muito bem o que é, e ficam usando isso contra nos mesmos. Mas a culpa disso não é dos senhores, não é? Pois os senhores não fazem mais do que as suas obrigações com o suor no rosto mostrando para cada um de nos que esta aqui para fazer, e principalmente, fazer o que é melhor para nos. Não é isso mesmo?

Nessa parte todos começam a aplaudi-lo, alguns ainda levantam para apertar sua mão em forma de agradecimento por suas palavras.

_ Mas ainda não acabei de falar meus companheiros! O que tenho para dizer esta muito mais alem do que isso.

O que eu quero dizer que as suas festinhas e seus carnavais, podem enganar, para que passem sem perceber o que realmente fazem por debaixo dos nossos narizes, mas este tempo esta acabando. Nos já não somos aquele povo burro, analfabeto, que os companheiros adularam durante tantos anos com espelhos e bugigangas sem valor. Ainda não somos unidos. Ainda não queremos as mesmas coisas. Ainda não somos fortes. Ainda não... Mas vai chegar um dia meus queridos companheiros, que tudo o que os senhores iram ouvir são nossos gritos na frente de suas mansões, nossas caras pintadas na frente dos seus carros de luxo. Vai chegar o dia companheiros, que não vai ser mais preciso dos senhores usarem esses ternos caros, pois os senhores não vão poder nem sair nas ruas, pois as casas dos senhores não serão suas prisões domiciliares, e seus privilégios não passara de apenas algumas horas de banho de sol junto daqueles que estão lá por crimes de suas próprias defesas.

Nesse momento começaram a levantar e sair da mesa antes mesmo do companheiro terminar de falar. Deixando sozinho com seu microfone na mão.

_ Ora companheiros já tem que sair da nossa reunião? Será que os senhores têm algum compromisso mais importante do que falar para aqueles que colocaram os senhores onde estão sobre o que esta acontecendo com o próprio dinheiro deles? Que isso meus companheiros! Aonde vão? Não se esqueçam que esse é um ano muito importante para nos, é um ano que poderemos mostrar para o nosso povo tudo o que fizemos durante os quatro últimos anos. Poderemos nos vangloriar das pontes que reformamos, ou dos hospitais que construímos, ou ainda das escolas que inauguramos. Isso é claro sem contar das outras inúmeras coisas que fizemos ao longo desses quatro anos que se passaram...

_ Mas uma ultima coisa que queria lembrar para os senhores meus companheiros antes de irem para seus compromissos mais importantes...

Todos pararam e olharam para ele, esperando qual seria a ultima palavra.

_ Sabe meus companheiros! Eu somente queria lembrar que esse é um ano muito importante. Por que é um ano de eleição...

F J Castilho
Enviado por F J Castilho em 20/02/2021
Código do texto: T7188932
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