O DIA EM QUE QUASE O "MIMOSO" NAUFRAGOU

O DIA EM QUE QUASE O MIMOSO NAUFRAGOU

Causos Amazônicos

Autor: Moyses Laredo

Foi num desses passeios corriqueiros de fim de semana, que o pobre do “Mimoso”, um barquinho regional tipo “tó-tó-tó”, equipado com o “potente” motor Yanmar marítimo de 7.5 Hp. Em plena travessia do Rio Solimões, enfrentando um violento temporal, que começou a adernar. Notaram que, sua velocidade reduzia gradativamente, o barulho que vinha da casa de máquina, estava diferente, o volante do motor emitia um ruído estranho, embora, a rotação do motor, se mantinha estável. Como primeira providência para avaliar a situação de seu funcionamento, acorreram ao alçapão, que dá acesso ao motor, como também, fornece uma ampla visão de todo poço (casco). Quando o alçapão foi levantado, todos ficaram estatelados com o que viram, o “porão” estava inundado. A água já tinha entrado e tomado grande parte da pequena área do motor, como se diz no linguajar náutico, o barco está “fazendo água”, foi um sufoco ter aquela visão, ver o barquinho de tantas aventuras e emoções, estar à beira de naufragar, o sentimento de impotência é grande, sentiu o proprietário. À princípio, ninguém entendeu o porquê, a falta de iluminação instalada no interior da casa de máquinas, obstaculizou a visualização. Toda essa situação, imaginem, ainda em meio à travessia do Rio Solimões, em pleno temporal, com todos seus requintes de maldades, chuva, ondas altas, banzeiros e ventos fortes, que jogavam a pequena embarcação para todos os lados e os tripulantes também, a potência do motor não se fazia presente, era fraco demais para vencer a força das ondas, que por vezes, o levantava na popa, a ponto de expor seu hélice girando ao vento, ao mesmo tempo, em que, o arrastava para uma direção contrária ao querer do comandante, o timão parecia não obedecer a ninguém.

Alguém conseguiu uma lanterna, de imediato, alumiaram o interior que mostrou de súbito, um cenário aterrador, as águas tinham invadido cerca de meio metro do fundo do barco, ultrapassando o nível dos mancais de apoio do motor, já ameaçava parar o volante que ainda, por sorte funcionava, esse era o barulho diferente que todos ouviam, porém, o peso do volume da água no casco, já fazia com que o pequeno barco reduzisse sua velocidade, como se ele estivesse com sua capacidade máxima de carga dobrada, entretanto, o foco da lanterna revelou um redemoinho de manchas de óleo, na superfície da água do interior do casco, com essa observação, teve a certeza de que, a água ainda adentrava, notou também, pelo foco da lanterna, que fluía pelo mancal da bucha telescópica do eixo, por onde sai da embarcação, e se prende no hélice, ou seja, o mancal da passagem do eixo do hélice era o causador da infiltração. Constatado a origem da infiltração, a primeira providência foi acionar a bomba de recalque, que em vista do grande volume d’água, quase não se notava a diferença. Seu Mitoso, o proprietário, em pleno desespero, sem esperanças de ter de volta seu barquinho de tantas alegrias, só lhe veio à mente, uma passagem do filme “Mar em Fúria” onde o tripulante Andrea Gailo, sofreu os horrores do naufrágio e gritava para o companheiro, o mesmo que o seu Mitoso queria dizer, diante do iminente naufrágio, mas o grito travou na sua garganta. Seria de – “Abandonar o barco”, se conteve, não queria mostrar fraqueza. Junto com o seu Zé caolho, lutaram bravamente para atapulhar o vazamento, o banzeiro atrapalhava demais, o seu Mitoso, chegou por diversas vezes a pensar em desistir de tudo, não via nenhum avanço nos esforços do trabalho do seu Zé Caolho, contudo, vendo o empenho tenaz do comandante, permaneceu ao seu lado ajudando-o, passando-lhes, corda, trapos e o que restava de estopa, para que continuasse a vedar; tudo às escuras, pois o sinistro vazamento, sequer podia ser visto por conta da água barrenta do rio Solimões que já inundara o ambiente e que anuviava sua visão. O seu Zé ia pelo tato e o conhecimento da loja (local). Depois de intermináveis minutos e agonias, com o barco tentando se safar, que se transformaram em horas, finalmente percebeu que a água parou de se movimentar, já não havia mais o tal do redemoinho, o nível já apresentava uma pequena baixada, notado pela marca feita, com a chave de fenda, em uma das cavernas, para saber o quão estiveram perto de naufragar. O seu Mitoso, cautelosamente conduziu a pequena embarcação em direção à margem mais próxima. Pensou no momento, enquanto ainda a coisa estava latente o desespero da ameaça de perder seu barco...- “se for mesmo afundar pelo menos que desse pra gente tentar desafundá-lo”. Já na margem, atracado num tronco forte, passado o sufoco, todos procuraram se recuperar e manter a calma, e a constante vigilância da infiltração, temiam que o remendo não suportasse por muito tempo, continuaram a navegar de volta ao porto, com o maior cuidado e atenção, sempre vigilante, todos calados, na maior ansiedade, avaliando mentalmente os acontecimentos, que certamente ficarão marcados na memória dos dois.

Molar
Enviado por Molar em 20/02/2021
Código do texto: T7188918
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