A BENGALA DA LIBERDADE

A BENGALA DA LIBERDADE

20fev21

Depois de ter meu direito de ir e vir interrompido por ações absurdas, autoritárias e opressivas que, justificadas por uma exagerada e inventada pandemia, fechou a praça da Liberdade para minhas caminhadas, ouço a notícia de que tal proibição já não existia. Ato continuo traço mentalmente nova rota para minha caminhada dominical de no mínimo 10 km. Saio da Uruguai e ao invés de virar à esquerda na Sra. do Carmo pego o caminho da direita, o qual me é mais simpático, agradável e confortável. Caminho por uma centena de metros pela av. do Contorno, o que me faz pensar que não sou afeto a contornar problemas, prefiro resolvê-los, pois só assim eles dão lugar a novos problemas. Novamente pela direita chego a Cristóvão Colombo e aí lembrando do navegador Genovês, penso que os ventos as vezes nos levam a caminhos não previstos e que surpresas podem ser boas ou ruins e se quisermos evitar surpresas, precisamos antever as possibilidades e desta forma definirmos nossas estratégias para poder gozar as boas e saber o que fazer nas ruins e no mar, isto se resolve com as velas e o leme nas mãos de um bom condutor.

Como na vida desço e subo pela Cristóvão Colombo e chego a Liberdade.

Por não ter podido dela usufruir ultimamente, decido caminhar no sentido horário pois, se até os ponteiros do relógio caminham pela direita este deve ser o caminho mais correto para a vida, que nada mais é que um passar do tempo. Ziguezagueando entre seus jardins e fontes encho meus pulmões ainda não afetados pelo vírus Chinês, com o inebriante cheiro da Liberdade tão ofuscado pelo lixo acumulado pelo distanciamento social e a paralização dos serviços não essenciais.

Estava eu no último estágio da minha caminhada, quando um pequeno desnível no piso da Liberdade me faz claudicar e estatelar de joelhos no chão. Tanto os que vinham pela direita quanto alguns da esquerda vieram auxiliar no soerguimento de meu agora mais pesado corpo, pois carregava o constrangimento. Ao ver que se aproximava um agente da guarda municipal, que eu erroneamente pensei que iria me ajudar, me pede para colocar a máscara, e aí não me contive e em altos brados disse tudo o que eu pensava de toda a cadeia hierárquica que o povo descerebrado escolhia para conduzir seus destinos. Nisso me aparece uma senhora de cabelos brancos e olhos verdes, da cor da esperança, daquelas que tem cara de colo de mãe, e como numa canção de ninar me diz: calma meu filho, vamos cuidar do seu joelho que sangra. Me passa um pedaço de um cabo de vassoura, para que como uma bengala me auxiliasse a chegar até a fonte da Liberdade e lá eu pudesse lavar a ferida e sorver a energizante água da Liberdade.

Agradeço a senhora que soube me acalmar, Esperança, nome pelo qual lembrarei dela. Ainda claudicante passo a fazer o caminho de volta ao meu ponto de partida, levando comigo as palavras que ouvi da “Esperança” quando me desculpei pelo destempero e lhe agradeci a atenção: “meu filho, não se desculpe, as vezes precisamos sair do nosso estado de conforto e elevar a nossa voz, pois muitos não nos ouvem ou não querem ouvir, leve consigo essa bengala pois ela poderá salvá-lo das quedas pelos tropeções nos males feitos por outros”.

Geraldo Cerqueira

Geraldo Cerqueira
Enviado por Geraldo Cerqueira em 20/02/2021
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