Teatro em Pitangui

O Teatro, assim com maiúscula tem bela história e igualmente belas estórias nesta Velha Serrana. Sobre o assunto, enquanto os mais antigos se comprazem em escarafunchar memórias, outros, mais jovens, como o Professor Licínio pegam da pena e dos já amarelecidos registros jornalísticos e fotográficos, e compõem obras que perpetuam essa relevante, e muitas vezes revelante memória.

Há nomes de pessoas ligadas ao nosso teatro desde aliás os tempos do theatro, com quem convivemos e até mesmo sem esperança de premiação podemos, espontaneamente, tecer bela delação...tendo apenas o ouvinte ou o leitor como juiz. E feliz aprendiz...é o que aqui lhes diz este filho de um Luiz.

Mas quem é que não se lembra, ou não ouviu falar num Dininho, num Zé Mosquito, num Michel, num Bimba, numa Leza, numa Nazaré...e quantos outros mais que lhes seguiram os passos, como um Arthur, um Perdigão e até a mana Vitória, que só não vi atuar, quando escondida, ela ficava a pontuar... E lhes confesso que eu mesmo, verdade que um tanto a esmo, enquanto seminarista em férias participei de uma comédia - só para rapazes - que foi apresentada no palco do saudoso Cine Pitangui, como suplemento de uma das memoráveis sessões da Jovem Guarda da cidade, e chegou até a dar uma canja também em Martinho Campos...que ainda chamávamos e ainda insistimos em chamar de Abadia...? Isso foi na segunda metade dos anos 60, e os colegas de troupe, José Fernandes, Milton Xavier e Egídio Corrêa podem confirmar, sem precisarem se jactar...Minha sorte, ou azar, foi ter feito o papel de um fantasma que aparece no fim da história, debaixo de um lençol...

Nosso Teatro de Pitangui, inobstante as muitas dificuldades, tem sim bela história e trajetória e em popularidade competiu com o cinema que vivia sua fase de Era outra vez Hollywood, all sold...lotações esgotadas!

E olhem que havia mais entretenimento sadio, e democrático, como as quermesses, ou barraquinhas que se faziam em torno de festas religiosas, os parques de diversão, o circo, e até as touradas...Já das cavalhadas eu bem quisera falar, palpitar mas em seu passado já mais que perfeito eu teria que mergulhar. Quem sabe nas memórias de Monsenhor Vicente Soares, o leitor não iria melhor as encontrar...

Bem, nesse meio tempo, no início bem tímida, mas depois, feito aquela ária do Barbeiro de Sevilha...sobre a calúnia (cuja letra vai no final deste artigo, e que os interessados em saber mais podem recorrer ao Verinho, amante desbragado impenitente da Ópera, quase como do futebol...)...pois bem, a calúnia que começa como uma doce brisa que vai se avolumando, crescendo...até se tornar um furacão incontrolável...e aí, babau, a TV ganhou a parada, prendeu todo mundo em casa e as noites mágicas nunca mais voltaram...

Mas para rematar, senão já não tem como alinhavar, do vasto, quase interminável teatral anedotário de recordações vai aqui uma antológica, que não é mais que a repetição de uma história de domínio público: numa determinada peça de suspense e mistério, na sua cena final, quando o detetive já está quase, mas quase mesmo atingindo o seu objetivo de desvendar o enigma que se expressava numa carta nas mãos do vilão da história, este, sabendo que sua única saída era queimar aquele documento, pega do isqueiro e, no afã de destruir cabalmente aquela prova que o incriminaria, para seu maior desespero vê o objeto falhar, irremediavelmente. E olhem que já era uma versão mais moderna daquelas bingas de outrora...bem mais moderna...mas que falhara na hora agá... E ali, vem a ideia salvadora de última hora: nosso ator rasga a carta em pedacinhos e a engole...justamente quando irrompe na sala o temível detetive, cuja frase pronta e demolidora seria:

- Sinto o cheiro de papel queimado...!

Porém, sem a evidência compartilhada pela hiper-angustiada platéia que lotava o auditório... o detetive teve a luminosa saída:

- Sinto o cheiro de papel rasgado...!

Edoardo Bennato

La calunnia è un venticello

Un'arietta assai gentile

Che insensibile, sottile, leggermente

Dolcemente incomincia a sussurrar

Piano, piano, terra terra

Sottovoce, sibilando

Va scorrendo, va ronzando nelle orecchie della gente

S'introduce destramente

E le teste ed i cervelli

Fa stordire, fa gonfiar

Dalla bocca fuoriuscendo, lo schiamazzo va crescendo

Prende forza a poco a poco

Può bastare

La confessione di un pentito

Magari di uno che fa un nome a caso

Solo perché gli salta la mosca al naso

Può bastare

È una notizia per sentito dire

Va in prima pagina di un giornale

E poi diventa verità ufficiale

La calunnia è un venticello

Ma in un lampo diventa una tempesta

E produce un'esplosione come un colpo di cannone

Un terremoto che fa tremare

Un tumulto generale

Che fa…

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 20/02/2021
Reeditado em 20/02/2021
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