Papel
O corpo paga o preço dos desarranjos da mente.
Talvez seja inevitável andar em círculos, sinto que já escrevi este texto, já tive esta conversa e, definitivamente, já vivi este momento. Embora, no passado, a falta de maturidade tenha feito do corte mais profundo e do café mais amargo.
É exaustiva a obrigação do novo, muito embora a repetição cause náuseas.
A rotina me confundiu os sentidos, muito me encontro fora do eixo, olhando para o céu, enxergando uma imensidão que nunca será minha e é de certa forma. Todos os dias faço questão de beliscar o braço para lembrar que estou aqui, meus ombros tensos revelam que tenho passado mais tempo dentro de minha mente do que no mundo, mas estou.
Lavando os pratos e planejando a vida, assistindo ao jornal e contemplando a morte, os dias suspiram pesados, alguns apenas sussurram dicas de como será o amanhã, outros fogem das satisfações necessárias.
Em meio ao caos ainda tento me alienar e recorrer ao tédio, os nervos frágeis feito papel, estive mais inflamável do que nunca, me parece que a vida tomou um rumo inesperado e não necessariamente positivo. Dói me ver frustrada ao espelho, sem brilho que me toque e me dê novo entusiasmo, enfim, os nervos de papel desfalecem, eventualmente, provocando a queda do corpo também.
Me rasgo, me molho, me amasso, me reciclo e me recomponho, o ciclo ininterrupto de uma alma fragilizada pelas peripécias do mundo moderno.