Imagens do meio fio
Numa quinta-feira ensolarada, eu caminhava pelas ruas do meu bairro e uma cena de destruição interrompeu minha oração de caminhante e minha introspecção. Eram árvores caídas, algumas antigas, apodrecidas e retorcidas, tombadas sobre as calçadas e ruas. Montes de galhos recolhidos aqui, ali e mais à frente, restos de uma tempestade de verão. Próximo dali, uma moça lavava a calçada e a água corria solta num pequeno e fortuito riacho e empurrava uma pequena pedra que cantava, rolava, dava cambalhotas e saltitava ao sabor da água. Segui a pedra dançante levada pela água e vi quando ela, num último gemido, caiu num bueiro e desapareceu. Sou eu… essa pedra? Perguntei, querendo filosofar. Quando começava a fazer divagações sobre isso, eis que surge um catador puxando uma carroça cheia de papelão, vidro, ferro e coisas afins. O sol estava forte e o homem parecia chegar de uma longa caminhada. Ele passou por mim e cruzou com alguém que vinha em sentido oposto e que, também, puxava uma pesada carroça. Os dois diminuíram a marcha e emparelharam.
— Bom dia, irmão! Tudo bem? Muito trabalho?
— Bom dia! Tudo bem, Graças a Deus!
Depois do cumprimento cordial, saíram em destinos opostos, contentes, assobiando e puxando suas pesadas carroças. Eu, ali, como um contemplador da vida alheia, retomei minha oração interrompida e caminhando de volta para casa, percebi que o encontro daqueles dois catadores ainda me acompanhava.( Walter Sasso – Autor do conto “Soca Pisada”)