A OLHOS VISTOS

A OLHOS VISTOS

Envelheço a olhos vistos, por falar em olhos, estão circundados de rugas e olheiras. Nas orelhas e no nariz crescem, como nunca, pelos, contrariamente aos cabelos que caíram e continuam caindo e embranquecendo. A flacidez é geral, pescoço parece de galinha, a pele do antebraço balança ao sabor dos ventos, o umbigo foi colapsado pela gordurinha abrangente. As pernas, embora meio bambas, ainda equilibram-se, marcadas por vasos que não são de flores mas formam desenhos abstratos de forma concreta. Enfim esse é o quadro que se apresenta. Porém, nada disso importa quando olho a trajetória e sinto-me recompensado por aqui ter chegado e poder desfrutar da velhice, com boa saúde, lucidez e belas recordações. Tenho ainda o privilégio que só a idade me trouxe, duas netas lindas que me acham uma belezinha de avô. E lá vou eu, humildemente me achando a última bolachinha do pacote.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 17/02/2021
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