Tivemos Terremoto

O fato, em si, insignificante. Mas ganhou as manchetes dos grandes jornais.

Isso, entretanto aconteceu não pelo significado do fato, mas pelos personagens envolvidos: um deputado, federal e o prefeito da tal cidade. Aliás bem perto daqui.

O fato?

Conto logo!

O fato foi um movimento debelado. Nada comparado, é claro, com a insurreição dos presos que se alastram pelos presídios desse “brasilzão” que se esparrama por aí.

Deixa eu contar o enredo, enredado pelos personagens presentes num tempo espaço logo definível em nossa narrativa.

O prefeito e aquele deputado eram grandes amigos. Amizade que vinha de longa data. Cresceram juntos. Mais do que isso: jogaram bola juntos, quando crianças e também depois de marmanjos.

Casaram no mesmo dia – cada um com uma garota, é claro. Entraram juntos para a política. Elegeram-se no mesmo pleito: um prefeito e o outro deputado federal. Um foi para Brasília e o outro permaneceu na cidade...

Foi por isso que se separaram. Mas permaneciam unidos nos ideais...

De Brasília o deputado ajudava o prefeito no processo de crescimento da cidade: atento ao que acontecia na capital, dava as dicas de como agir no local. O prefeito não perdia as oportunidades de entrar pelas portas abertas pelo deputado. E fazia questão de dizer que “isso foi feito graças ao nosso deputado...”. E o dinheiro para as obras da cidade jorravam tanto que ambos já estavam ricos... mas isso não faz parte desta história...

O fato, enfim, foi que todos percebiam que cada vez mais os dois se firmavam como articuladores da política regional, da qual eram lideranças destacadas. Até já se falava que os dois logo chegariam ao governo do estado.

Ambos eram o que se pode chamar de sincronismo perfeito – nos interesses da população, é claro. E isso é algo que não se pode discutir. Não é pelo fato de se ouvir alguns boatos, infundados e logo negados, sobre desonestidade política, que vamos desconfiar de todo mundo.

Para os dois o canal de comunicação – talvez para evitar algum grampo.... – não era o telefone, mas o telégrafo...

Foi assim que numa manhã de 31 de março de 1975, tempos negros da ditadura militar, numa manhã bem de manhãzinha, a secretária entra, com a correspondência, no gabinete do prefeito.

No telegrama, de Brasília, leu a curta mensagem:

"Cuidado! Previsto movimento sísmico! Epicentro sua cidade!"

Dois meses se passaram sem que se comunicassem. Dia 1 de julho chega às mão do deputado o telegrama do prefeito:

"Movimento sísmico debelado. Epicentro preso cadeia local. Grato pelo aviso.

Ps.: Tivemos terremoto!"

(Publicado inicialmente em: https://www.webartigos.com/artigos/lei-federal/4510)

Neri de Paula Carneiro

Mestre em educação, Filósofo, Teólogo, Historiador

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