A GRINGA
Gisele foi ao hospital, para retocar a sua plástica abdominal.
Na sala de repouso, enquanto esperava a sua vez de fazer a cirurgia, chegou uma enfermeira empurrando uma maca, com uma americana, e a colocou ao seu lado.
-Prontinho, Lil. Agora você vai ficar aqui, descansando um pouco. Depois, vou te levar para o seu quarto, viu?
Nenhuma resposta, pois a mulher não falava uma palavra da nossa língua.
-Dona coisa, será que ela está com dor? Vou perguntar devagarzinho: Lil, dooooooor? Doooooooor? Ai!!!! Aaaaaaai!!! Doooooooooor?
-Dor é pain, moça.
-Obrigada, dona. Vou perguntar de novo: Lil, pain? Pain? Pain? Pain?
-No.
-No quer dizer não, né? Então, dor ela não tem. E frio? Será que ela está com frio? Como é frio em inglês?
-É cold.
-Hum... Esquisito! E como se fala muito frio, hem?
-Freezer.
-Ah... Esse aí eu conheço! Tem dois lá na cozinha! Deixa comigo: Lil, freeeeeezer? Freeeeeezer? Freeeeeezer?
-No.
-Também, não está com frio. Vou checar se a bexiga dela está cheia: xiiiiiixiiiiiiiii ... Vocêêêêêê queeeeeeeeer fazeeeeeer xiiiiiiiiiiiiiiiiiixiiiiiiiiiiiiiii?
-I don’t understand. You are striving.
-O quê que ela disse, hem dona coisa?
-Ela disse que não entendeu e que você é esforçada.
-Nossa!!! Ela falou isso? Tem certeza? A senhora sabe falar em inglês, não sabe?
-Mais ou menos. Dá para o gasto.
-Então, eu vou pegar um papel e a senhora vai ditar umas palavras para mim.
Nisso, chegou outra enfermeira e a moça lhe disse, entusiasmada:
-Menina, estou “fera” no inglês!
-Uai!!! É mesmo?! Como assim?!
-Conversei, à beça, com aquela gringa, ali, que foi toda plastificada, siliconizada e lipoaspirada! Sabe o que ela falou de mim? Sabe?
-Não.
-Ela falou que eu sou muito esforçada! Legal, né? Olha, minha filha: se o hospital pagasse um cursinho de inglês para mim, eu estava feita! Ninguém me segurava mais, neste país!
Espera aí, que aquela outra paciente, que vai fazer um retoque, vai me ensinar umas pa...
Uai! Cadê ela?!
-Você não viu, não? Ela já foi para o centro cirúrgico.