As Quatro Estações
Você nunca será a mesma pessoa de sempre. Tudo muda e conforme você envelhece, o seu eu vai mudar também. Já pensou se as pessoas não mudassem? Se as lutas, perdas, tristezas e vitórias não nos mudássemos, nós seríamos meros robôs. Acredito que as mudanças nos fazem seguir, nos impulsionam para uma versão nova, uma versão melhor de nós mesmos.
Infelizmente, eu sei, nem sempre as mudanças são vistas como boas, mas “não há um mal que não traga um bem” alguém me disse isso e depois de ouvir essa frase, aprendi a lição, acredite. Hoje eu sou uma nova versão de mim mesma, mais forte, mais confiante e muito mais otimista.
Tudo isso veio à tona quando eu estava no Café Center, adoro tomar o café de lá, o local é aconchegante e convidativo e o café é mesmo uma delícia. Eu aguardava minhas amigas, fazia um bom tempo que não nos víamos e enquanto as esperava, saboreava o meu café lendo o Adulto de Gillian Flynn, indicação de uma delas. Parecia até que no estabelecimento estavam apenas o café, o livro e eu, tamanha ligação me prendia.
Entretanto, de relance ouvi uma voz dizer: “Você não é mais a mesma” Continuei minha leitura, não levantei o olhar, porém meu cérebro me rebateu fazendo-me refletir. Não me concentrei mais na leitura sobre a jovem que ganhava a vida praticando pequenas fraudes e que dizia às pessoas exatamente aquilo que elas queriam ouvir.
Aquele “Você não é mais a mesma” doeu naquela que o ouviu. Em mim, cresceu o desejo de interromper e dizer: Parabéns por não ser mais a mesma, mas me contive. Não os conhecia e por mais que eu acredite fielmente na bondade das mudanças existem pessoas que não. Esse tipo de pessoa quer viver em apenas uma estação e aquele cara era uma delas que se contentam em apenas ser inverno ou verão, que são 8 ou 80. E nesse “eu sempre tenho razão” muitos acabam perdendo a verdadeira felicidade.
Eu entendi naquele momento que a jovem ao meu lado estava passando por um processo de metamorfose, se transformando em uma pessoa melhor, estava evoluindo, entretanto, o cara que com ela estava não admirava essa transformação, compreendi que ele queria que ela fosse como ele, apenas uma estação. Mas ela já tinha ido longe demais.
Percebi que a mulher da mesa ao lado tinha acabado de sair do inverno, suas noites começavam mais cedo, não havia muita luz em seus dias, pois eram chuvosos e frios, seu olhar me dizia. No entanto, ela está prestes a entrar na estação mais florida do ano, onde os dias serão longos e quentes. Ela perceberá o quanto sua própria companhia será mais agradável e a borboleta voará alto. Depois de transitar pela primavera, ela será verão. Sentirá o calor do sol aconchegante e perceberá que a luz é o seu lugar e mesmo em dias nublados a alegria fará morada.
Por fim, ela chegará ao tempo da colheita e colherá os bons frutos de todo esse processo e ao final, será livre para começar e recomeçar novamente. Eles estavam naquele dilema, por mais que ele diga em voz alta, no seu interior ele não quer assumir que ela não é mais a mesma. Em meio ao dilema da mesa vizinha, minhas amigas chegaram e dentre a felicidade de vê-las, esqueci-me completamente do casal ao lado, mas percebi que seguiram caminhos opostos, pois ela não era mais a mesma pessoa de antes.