QUEM SÃO OS PAIS DAS CRIANÇAS?

O recurso que falta para o Amapá [e o Brasil] ofertar aulas remotas com qualidade não é financeiro, é moral.

Claudio Chaves

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NÃO há como calcular com precisão o tamanho e o alcance dos danos que resultarão da forma negligente (pra ser gentil) e nada transparente como está sendo gerida a educação pública no Brasil e, em particular, no Amapá – com destaque para Laranjal do Jari – durante a crise da pandemia de covid-19.

ESPECIALISTAS internacionais afirmam que, pelo modo como os governantes estão tratando a Educação durante a crise, os efeitos (negativos) do ano letivo perdido durarão por aproximadamente 80 a 100 anos.

CADA aluno que não conclui o ensino médio custa, por ano, 371 mil reais (371.000,00) para o País. O total perdido com a evasão escolar apenas em um ano é de 214 bilhões de reais – esses cálculos foram feitos sem considerar a pandemia e seus efeitos[1]

PRATICAMENTE um ano depois que as aulas presenciais foram suspensas em todo o Estado (do Amapá), as dúvidas e incertezas daquele início de março são praticamente as mesmas deste [inédito] fevereiro sem carnaval (e sem transparência).

A DESPEITO de reiteradas solicitações formais de professores dirigidas a todas as autoridades do Estado e aos mais diversos órgãos fiscalizadores requerendo, minimamente, um debate público sobre o assunto – como é praxe nas sociedades democráticas e em se tratando da coisa pública –, nenhuma manifestação nesse sentido foi feita por parte dos requeridos, exceto o Ministério Público de Vitória do Jari, que cobrou explicações tanto à Secretaria quanto ao Conselho Municipais de Educação daquele Município.

ASSIM, passamos o ano de 2020; e assim, iniciamos (como prevíamos e temíamos) 2021 – ou continuamos, como queiram, 2020, já que o ano letivo ainda não foi concluído. Exatamente assim: sem transparência, sem planejamento claro, sem participação da comunidade escolar, sem debate público, sem capacitação de professores e, o que é mais desmoralizante, sem participação efetiva do Estado no provimento dos recursos mínimos necessários para a realização das aulas remotas.

COM a conivência – em parte culposa em parte dolosa – da sociedade geral, o Estado simplesmente abandonou seus alunos em Laranjal do Jari. Não há estatísticas; não se sabe a real condição dos alunos; aferição da aprendizagem e de evasão escolar; não se sabe o nível de capacitação dos professores, condições de saúde... não há mensuração dos impactos da pandemia sobre os alunos e suas famílias e nem sobre os professores, nenhum tipo de auxílio financeiro ou de recursos tecnológicos, principalmente para os alunos, nem sinal de adaptação do ambiente escolar para retorno das aulas presenciais e, o pior, não há indicativo de que o Governo pretenda mudar de postura daqui pra frente.

É COMO se, de uma hora pra outra, todos os alunos tivessem ficado órfãos. Ninguém sabe “quem são os pais das crianças”. Ou seja, parece que a educação de nossos adolescentes e jovens passou a ser responsabilidade quase exclusivamente deles.

O DISCURSO do Estado, já, há tempos, escrito e ensaiado, é o mesmo: “não há recursos”. Para não ser cansativo, lembro, aqui, apenas um caso recente desse tipo de pretexto: quando começou a pandemia, o Governo Federal "não tinha como auxiliar ninguém". Mas depois das pressões, inclusive internacionais, descobriu-se até que tínhamos 40 milhões de “invisíveis”, e o auxílio para o qual não havia recurso passou a ser de 200, 500 e acabou em 600 reais. Por que o Governo não vinculou, por exemplo, parte do auxílio à aquisição de recursos tecnológicos para os alunos das famílias beneficiadas ou não incluiu nele parte dos 197 milhões do Ministério da Educação reservados exclusivamente para levar computadores e internet às escolas, e que permaneceram intocados pelo menos durante todo o primeiro semestre do ano passado?

DE FATO, a educação remota no Amapá – pelo menos no que tange a Laranjal do Jari – está sendo um desastre porque falta recurso; mas não é financeiro. O recurso que nos falta é moral.

FALTAM recursos para que se garanta ensino remoto com o mínimo de decência nas escolas públicas do Amapá basicamente por dois motivos: 1) os filhos dos governantes não estudam nelas e 2) temos uma Assembleia Legislativa e Câmaras de Vereadores omissas, um Ministério Público e um Judiciário insensíveis, professores alienados de seu papel político e uma sociedade, em geral, hipócrita, egoísta e, sobretudo, hedonista.

[1] Conclusão da pesquisa Consequências da Violação do Direito à Educação Básica (Fundação Roberto Marinho e Insper). Disponível em: https://www.futura.org.br/brasil-perde-214-bilhoes-por-ano-com-evasao-escolar-de-jovens/