Não sei se você vai ler esta crônica
Não sei se você vai ler esta crônica, é provável que não, por que haveria de ler? Pois a gente nem se fala mais! Se a gente ainda se falasse, eu mesmo iria correndo até você para mostrar o que havia escrito, e faria isso presumindo que você iria gostar bastante e me dizer “cara, como isso é bom!” – sempre precisei que você me dissesse que o que eu faço é algo bom.
Como a gente não se fala mais, porém, a única chance de você ler esta crônica é se você procurar por si só, é se você pensar “e o Henrique, como será que está?” e então ir atrás do que eu tenho escrito, pois é esse o meio mais eficaz mesmo de se informar a meu respeito. O problema é que o momento em que eu publico esta crônica precisa coincidir com o momento em que você quer saber como eu ando, do contrário você pode até ler alguma crônica minha, mas não esta, que ficará perdida no meio das outras, no meio de uma porção de crônicas que eu não fiz pensando em você como a que estou fazendo agora.
Dependo, portanto, da sorte e do destino, sem falar dessa minha presunção de que você, de vez em quando, realmente me stalkeia, como eu stalkeio você – ah, mas é uma coisa tão difícil stalkear alguém que não deixa escrito tudo o que lhe acontece na vida! É preciso que eu subentenda, que eu suponha, que eu cogite, que eu preencha com a minha imaginação as coisas que não consigo apurar nas suas redes sociais. Arrisco dizer que tem acontecido muita coisa boa na sua vida. Eu fico feliz por isso, mas também confesso o meu sentimento mesquinho de que, já que você está tão bem, realmente não precisa mais de mim – é verdade, eu ainda queria ser importante para você.
Não é engraçado que eu faça e sinta tudo isso sem me animar a te adicionar, a puxar conversa com você outra vez? É que as coisas não terminaram do jeito certo entre a gente, se é que há um jeito certo para as coisas terminarem, e acho que eu não saberia agir normalmente, como se nada tivesse acontecido. A gente precisaria ter uma DR e talvez isso acabasse por nos desgastar ainda mais e, mesmo que a gente passasse por isso, talvez lá na frente acontecesse tudo de novo e a gente sofresse ainda mais do que antes. Além disso, eu não sei o que você pensa sobre mim, pode ser que já tenha desencanado há muito tempo.
Mas, já que você está aqui – eu espero –, lendo a minha crônica, deixa eu lhe contar como estão as coisas comigo. Ainda estou trabalhando no mesmo lugar. Ainda moro no mesmo lugar. Até onde eu sei, não peguei o COVID e nem tive perdas próximas a mim. Ando pedalando como um condenado e leio livros cada vez mais desconhecidos. Tenho ainda os mesmos traumas que você conheceu. Meus sonhos ainda são escassos e os medos enormes. Ainda não me aconteceu uma coisa fantástica que me mudasse a vida. Ando ainda mais solitário. Sinto a sua falta.
Mesmo que você não leia essa crônica e que a gente não converse nunca mais, deixarei registrado aqui, para a posteridade, que não há nenhuma culpa da sua parte sobre o que aconteceu. Sei bem que te tratei de forma injusta, e não foi uma e nem duas vezes. Também por isso, não me sinto na posição de quem pode forçar uma reaproximação. Ah, como as pessoas são complicadas – eu, pelo menos, sou.
Sinto ainda que falar demais não ajuda. Que você simplesmente receba então, ao passar por aqui, a minha mensagem de ternura e de perdão.