AMIZADE DE MULHER E HOMEM
Hoje me recordei de uma amizade que presenciei um tempo atrás. Uma camaradagem que deixaria qualquer pessoa alegre. De cativar por inteiro. Espia as duas figuras. Primeiro, Paulo, um sujeito inusitado e cheio de querença. Respeitava o povo mais velho, saía dando bença pra gente da família. "Que menino respeitoso!", cochichavam os parentes, de um pro outro. Era a fama incumbida ao rapaz. Até parecia inseguro, mas encantava quem via, quase sempre. Do outro lado, Janaina, a aliada mais fiel a Paulo, era o meio termo entre gentileza e sinceridade. Dava atenção a quem fosse, mas não guardava verdade na ponta da língua. Obvio que era amorosa e proseava tranquila, mas, também sabia bater de frente, sem medo. Ainda mais com gente indecente.
Certo dia, foram Janaina e Paulo de encontro ao ponto de ônibus da esquina. Eram amigos de data longa, com intimidade e sem economia de carinho entre ambos. Então, iam segurando a mão um do outro, balançando pra frente e pra trás que nem criança quando pula brincando na calçada. Duas senhoras espiaram aquilo, olhando de canto. Se encasquetaram por um instante. Paulo na mesma hora deu uma cutucada na colega, pois temia que talvez ela fosse rebater àquelas mulheres com alguma palavra. "Deixe de agonia! Olhe pra frente, se não você vai trupicar no meio d...", falou Janaina, até ser interrompida com o tropeção do amigo num buraco pequeno da calçada. Num parecia que tinha o poder da palavra mesmo? Nem ela, nem as duas senhoras se aguentaram de riso. Deram até tosse de tanta gargalhada.
Quando retomou a respiração, Janaina encostou perto de Paulo, que estava com cara de emburrado.
— "Machucou o pé, destrambelhado?"
— "Que amiga do cão, você... Rindo do mal dos outros!", falou ele em tom de deboche.
— "Oxe, e a culpa é minha agora?", rebateu Janaina, ainda zombando.
— "Um amigo apoia o outro, cê sabe, né? Porque nem parece que você lembrou disso agora!".
Ambos ficaram discutindo, até perceberem um intruso comentar na conversa. Nem imaginaram de onde surgiu aquele xereta.
— "E aonde já se viu, homem ser amigo de mulher?".
— "Quem...", iniciou Janaina.
— "A amiz-".
— "...te perguntou?".
Pros amigos aquilo pareceu como o jeito de criança responder, mas foi de bom tamanho. Até Paulo que estava sentindo dores no dedão não segurou a risada escandalosa. Logo em seguida, ele e amiga subiram no ônibus e puderam ver o enxerido espiando pelo lado de fora da janela. Oh, mas já viu, se meter na onde não era chamado?