NADA COMO 1 DIA DEPOIS DO OUTRO...
NADA COMO 1 DIA DEPOIS DO OUTRO...
"De onde menos se espera
é de lá que nada vem" !
(ditado popular "adaptado")
A maioria no Mundo acredita em coincidências... prefiro crer no Destino, em mão invisível nos dirigindo para um objetivo qualquer. Boa parte dos objetos que achamos enquanto recicladores se deveu à atenção que demos a uma voz interior nos sugerindo mudar o roteiro habitual. Depois do recente "susto" que levei quando alguém poz em dúvida a existência do acervo de Capoeira sob nossa guarda, recebi hoje pela manhã email de mestre "Gavião" relembrando o recebimento de material nosso, enviado para a gelada e tradicional Porto Alegre pelo "elefantão de gentileza e simpatia", o colecionador de selos e moedas sr. Wanderlen, saindo de Belém lá por 1993 ou 94. Mestre "Gavião" dirigia a Federação gaúcha naqueles tempos... torna a fazê-lo quase 30 ANOS depois. E, por aqui, entoam loas a quem ficou 2 ou 3 anos "dormindo" na Entidade local. Meu cérebro "tilintou"... já nem lembrava do mestre que -- junto com um certo "Farol" -- ficou de fora da relação de nomes que nosso CCCP contactou Brasil a fora. (texto anterior) A César o que é de César... corrigirei minha falha ! Juntei essa mensagem com a frase inicial da carta de maio/88 de mestre Suassuna... "fiquei muito satisfeito em receber tua correspondência (a 1ª carta e o "pacote" seguinte"), etc. (OBS: prometeu nos enviar algo... jamais recebemos !) Portanto, quando quase nada tínhamos, já mandávamos material de Belém para outros Estados, fotos principalmente. "Contratamos" fotógrafos que atuavam na Praça da República, antes que o "Brás" (Antônio J. Bahia) se dispusesse a registrar a Roda dominical, quase sem falhas, umas CEM FOTOS em menos de 3 ANOS (de 1990 a 92). Outros também o fizeram, o "capoeira" Carlos Mello entre êles, que nos emprestaria os 35 negativos das belas imagens. Nessa época, até o famoso Miguel Chikaoka esteve por lá... ensaiamos um contato, preferiu nos ignorar. A hoje celebrada Paula Sampaio nos registrou em maio de 1989 num barraco horrendo em "invasão" e nem temos a tal reportagem, ficávamos alguns dias sem jornal por travarmos solitária batalha para conseguir comprar direto com a Empresa. (Éramos os terceiros na "escala", perdendo comissão, por isso !)
Um doutor (de quê, mesmo ?) me manda outra MSG, agora dizendo "que tenho muito PARA APRENDER..." com êle ! Ainda bem que não falou em que área ! De onde menos se espera, é de lá que nada vem... sempre usando os jornais, nossa luta foi extensa, nem cabe neste texto: 1) contra terrenos e casas abandonados no bairro (alguns donos as demoliam, para evitar invasão) devido a uma estatal inepta e mal intencionada; 2) contra a CELPA e a COSANPA, que lesavam os consumidores com leituras de relógio "erradas"; 3) contra os Centros ditos Comunitários, absolutamente inúteis, sempre desocupados e, 4) contra a falta de lazer para crianças e jovens, já que bailes e bingos atendiam tão-somente aos adultos.
Mas, voltemos ao acervo... porque cresceu tanto ?! Simplesmente porque nossos fregueses de jornal -- na melhor fase meu irmão chegou aos 120 clientes e eu, aos 60 -- nos ofereciam livros e revistas que queriam descartar, por vezes bibliotecas inteiras, não estou exagerando. Daí porque tínhamos 1.300 quilos de papel em casa e vendemos outros 600 kg 2 dias depois. Antes, examinávamos cada revista, cada jornal, à procura de notas ou reportagens sobre Capoeira. A mais bonita estava numa revista da MERCEDES BENZ para caminhoneiros... de capa verde, com lindas fotos em p/b na escadaria de secular igreja, mineira eu acho, com texto magnífico.
Não, realmente nosso CCCP não teve 63 reportagens no exíguo tempo em que existiu (1988/92)... foram só 23, o valor final se refere a "duplicatas" e mininotas diárias apontando a exposição, de 10 ou 15 dias cada uma. Estaria iludindo alguém ?! Afinal, era um registro citando a Capoeira ! A nota mais antiga do acervo se referia a Batizado de mestre Waldecir em 1981 em Icoaraci e tinha uns 15 cm. Boa parte do acervo de jornais deixei descrita, em uma relação datilografada, com o prof. Vicente Salles, no Museu da UFPA, em 1996 ou 97, onze páginas com quase 200 títulos.
Porque NINGUÉM quiz comprar nossa coleção ? Talvez o doutor tenha a resposta, êle que parece demais com o sujeito que atuava junto a uma senhora "no porão" do Museu citado acima. Podem me apontar como complexado, mas penso que era apenas por sermos "gente de fora", "sulistas". As desculpas eram várias, a mais comum seria de que a Biblioteca só aceitava LIVROS NOVOS, os velhos "tinham mofo", no caso, os nossos livros. A UEPA (perto do Curro Velho) e a antiga ESEFPA, na Almte Barroso, não aceitavam cópias XEROX, caso de apenas 2 livros, o "desaparecido" de Waldeloir Rego e as memórias de mestre Noronha, contando os primeiros dias da Capoeira Angola baiana, duas raridades ímpares. Estranhamente, a biblioteca da Escola de Educ. Física tinha 2 obras sobre Capoeira... ambas EM XEROX. Pior, havia uma xerocadora dentro da Biblioteca !
E a milionária UNAMA (a da sede), porque não se interessou ? Já tinha um "outsider" lá, ensinando não imagino o quê ! Na sala refrigerada da ampla Biblioteca belas telas de PC onde se acessava o acervo inteiro... nem 1 página de Capoeira, se ainda lembro. No imenso Colégio Madre Celeste, aqui no bairro Cidade Nova 8, situação igual. Estive também no Colégio Moderno, ignoro qual o assunto, se este ou por causa de um certo Roberto Di Lello, com visão futurista sobre a Capoeira, que ninguém entendeu. Na SEEL estadual, no Mangueirão, um recepcionista mal-intencionado sugeriu que eu devia CONSULTAR o mestre local, justo o sujeito que se negara me vender calendário pavoroso, de Grupo na Doca, algum tempo antes. Retruquei que êle levasse a carta ao Secretário de Esportes e a ninguém mais !
Do CENTUR -- sede da SECULT e nossa esperança maior -- nenhuma resposta oficial... uns 20 dias depois da entrega das propostas eis que surge "casal" jovem em nossa casa. Não teriam dito de onde vinham ou, então, esquecemos ! Olharam mal e rápido as 2 malas grandes e, quanto aos jornais, condenaram o fato de termos "recortado" as notícias, embora mantendo data e título. Queriam a página no formato original... tempos depois o CENTUR adotaria igual solução, por falta de espaço. A dupla não ficou 3 minutos, não se interessou por nada e foi embora. Ainda hoje achamos que era pessoal do Museu da UFPA, onde perdi quase 90 dias, a paciência e um bocado de dinheiro, os cartões telefônicos eram caros e durava minuto e meio cada conversa, tinha-se que falar rápido e ser conciso. A doutora (?!) de lá "me cozinhou" enquanto pôde, até que eu desistisse. Ora o pai adoecera, ou ela entrara de férias, ou fazia curso ou qualquer desculpa parecida. E o sujeito lá era a cara desse "doutor(zinho) de teses" que sem pestanejar afirma que "tenho muito para aprender... com êle" !
-- "DE CAPOEIRA", pergunto eu ?! Quando êle "jogava peteca" -- "búrica" (no sul) ou bola de gude no resto do país -- eu já preenchera mais de 90 páginas datilografadas analisando diversos aspectos da Capoeira, seus símbolos e logotipos, a ausência do Negro nela, Religião x Capoeira, a Angola x Regional, a precariedade do ensino dela, apesar da Sequências de Bimba... e muito mais ! Gastei meses no CENTUR, entre 1987 e 89, para deslindar o "suposto início" nos anos 50/60 dessa Capoeira que temos atualmente na Capital, a partir de jornais antigos.
Comecei pela música, em 1972/73, encantado com o som de Camafeu de Oxóssi e de Caiçara, discos mais melódicos que o famoso LP de mestre Pastinha, cheio de "falhas" sonoras. E fui além, criando método simplérrimo para o aprendizado do berimbau. Compramos a duras penas caríssima filmadora (toda de plástico) em 1975, somente para registrar Camisa, Peixinho e os melhores do Grupo Senzala -- na melhor forma física deles -- enquanto esse pretensioso estava nascendo. Enquanto êle corria atrás de pipas ("rabiolas", em Belém), entre 1988 e 91 emplacamos 5 páginas inteiras com o tema CAPOEIRA e perto de 20 notas ou reportagens, além de escrever para meio Brasil.
FINAL da história... tendo conhecido o Mundo digital em 1994 graças ao mestre Fernando Rabelo, só em 2008/9 entraríamos efetivamente nele, via portal OVERMUNDO. Na época a Petrobrás carioca abriu projeto de apoio à Capoeira. Inscrevi o de "venda" do acervo... a estatal nos "doava" 1.500 reais e indicava a biblioteca para onde enviaríamos o acervo inteiro, enorme já. Gastei 60 reais em SEDEX (exigência dela) que sequer retirou da sua Caixa Postal o envelope e nem o Correio se deu ao trabalho DE ENTREGAR o objeto na sede dela, a 500 metros da APT Central, na rua 1º de Março, se bem me lembro. O final da história (e do acervo) já contei em texto anterior. Nada como 1 dia atrás do outro... se ERRAMOS "jogando no lixo" o esforço de tantos que nos enviaram material, deixo claro que fizemos de tudo a fim de que êle permanecesse em Belém. Só não o enviamos para mestre Burguês porque não confiávamos nos Correios e o acervo inteiro nos custaria uma fortuna.
Como não há coincidências -- na minha vida, pelo menos -- soube recentemente que as 5 pastas com ofícios meus e umas 60 cartas de mestres nacionais de relevo também... "virou fumaça" ! Não, não foi queimada, como também não incineramos nosso acervo ! Os cupins adoraram o tema e, segundo o amigo a quem doei o material em 94, devoraram até a última página de meus escritos. Soube que um deles confidenciou (sobre mim) que "posso até nem jogar nada de Capoeira, mas escrevo bem abessa" ! Agora, do "doutor" não posso falar o mesmo: nunca o vi jogar e não pretendo lê-lo !
"NATO" AZEVEDO -- (em 12/fev. 2021, 21hs)