DUAS HISTÓRIAS
Derek. Este nome conta duas histórias bem diferentes. A primeira é uma bela lição de amor, que poderia ser transformada num filme campeão de audiência. Começa quando os britânicos Derek Firth e Margareth se conheceram, ambos com 14 anos, e se casaram depois de sete anos de namoro. A união durou 70 anos e lhes deu cinco filhos, onze netos e quatro tataranetos. Mas terminou em fevereiro deste ano, quando ambos faleceram vitimados pela Covid.
Estavam em hospitais separados, mas a família obteve autorização para colocá-los no mesmo quarto, a fim de se despedirem. A filha conta que Margareth adoeceu primeiro e suspeita que o pai foi visitá-la no hospital com a “esperança” de se infectar também. Juntos, assim, na saúde e na doença e, se possível, com o mesmo vírus.
As camas bem juntinhas, um olhando para o outro, eles se deram as mãos pela última vez. E fecharam os olhos com apenas três dias de diferença, aos 91 anos. A se acreditar em Guimarães Rosa, não morreram propriamente. Ficaram “encantados”.
Se William Shakespeare não tivesse matado Romeu e Julieta tão jovens, eles hoje se chamariam Derek e Margareth. E se existe mesmo um céu, eu imagino que os dois – encantados – subiram até lá de mãos dadas, como aparecem na última foto, para celebrar entre os anjos suas bodas de vinho.
Agora, prezado(a) leitor(a), vamos mudar a chave. Vamos para a outra história, que traça outra direção. Aqui estamos falando do americano Derek Medina. Casado com Jennifer Alfonso, ele a assassinou com vários tiros e postou a foto do cadáver no Facebook, encerrando, dessa forma, um relacionamento pontuado por ameaças e agressões.
Condenado à prisão perpétua, descobriu-se que o uxoricida publicou, em 2013, um livro de autoajuda intitulado (acredite se quiser) “Como Salvar Seu Casamento”. Nele, o autor enfatiza a prática da tolerância, respeito e solidariedade entre os parceiros. Fez enorme sucesso na época. Deu entrevistas, palestras, workshops. Se tivesse vindo ao Brasil provavelmente teria comparecido no Domingão do Faustão, Encontro com Fátima...
Pois é, mais uma vez cabe o ditado: “seria cômico se não fosse trágico”. Mas, afinal de contas, passado o choque da última narrativa, qual é a moral das duas histórias? Vou resumir dessa forma: se não têm a mesma face, o amor e o ódio podem ter o mesmo nome. O difícil, muitas vezes, é separar o joio do trigo.