Passado, Presente, Futuro
Em dias em que o presente é estranho e o futuro é incerto, é comum voltar os olhos para o passado. E nossa memória, que adora nos pregar peças, faz com que acreditemos que tudo antes era melhor e que bom mesmo seria o tempo voltar e nos colocar num mundo totalmente idealizado.
Quando, no entanto, tentamos usar o passado como lição para o presente e planejamento para o futuro, é muito comum ouvir que se deve deixar o passado para trás. Que o mundo atual é outro, e que ficar relembrando o passado ofusca o presente e impede um futuro melhor.
Se as decisões do presente parecem complexas demais, o papel do passado é fundamental. É ali onde podemos encontrar alguma luz para nossas decisões. Não importa que o mundo seja outro, ele é fruto do passado, afinal.
Parece que o que está por trás desses discursos é algo bastante misterioso: o tempo e nossa relação com ele. Pensar no tempo como três momentos distintos – passado, presente e futuro – é uma simplificação muito conveniente para escritores, historiadores e outros, mas às vezes ficamos prisioneiros dessa rigidez. Nem todo passado deve ficar para trás, nem sempre o presente é o que mais importa, e o futuro é, em boa medida, incontrolável.
Enquanto físicos e filósofos discutem a existência do presente ou como se comporta o tempo, para simples mortais o tempo nada mais é do que uma sequência imposta de minutos, dias, meses e anos. Seríamos capazes de pensar o tempo de uma outra forma? Poderia nossa vida ser definida de forma independente desse tempo? O que faríamos se acreditássemos que o passado pudesse eventualmente se repetir? O que seria o futuro numa concepção diferente de tempo? Viveríamos o presente de modo diferente?
Outro lugar-comum é entender o presente como resultado de escolhas do passado – assim como o futuro será determinado pelas escolhas do presente. Aqui, o importante é saber que não são apenas nossas escolhas, mas as de todos – ou, pelo menos, de vários outros –, que acabam por determinar onde chegamos. E repetir escolhas anteriores não implica chegar a lugares pré-determinados. Nesse sentido, parece que conhecer o passado pode não ser de grande ajuda.
A mim parece que essa insistência em se desapegar do passado é mais uma fuga daquilo que não deu certo, ou que deu muito certo mas não consegue ser reproduzido. Se ficamos revivendo o que foi ruim, podemos nos tornar muito amargos e pessimistas. Se ficamos louvando o que já passou, deixamos de dar valor ao agora, ao presente. Simples assim. Mas então, o que fazer com as memórias? Como ignorar sua própria vida? Sim, porque seu passado é você.
Se suas memórias o recuperam, evitar o passado pode indicar algo mais do que simplesmente a vontade de viver apenas o presente e planejar o futuro. Que mal podem fazer as memórias daquilo que agora parece melhor do que o presente? Que mal pode ter a consciência de erros e acertos anteriores? Aceitar esse passado sem julgá-lo com muita rigidez pode ser um bom caminho para levar a vida com mais leveza.
Até porque viver pensando apenas no futuro pode nos levar a frustrações muito maiores que nossa incapacidade de reviver o passado.