Crônica para o resto da sexta feira de hoje
Hoje é o que resta da sexta feira. Aquele dia em que olhamos para nós mesmos depois de termos trabalhado a semana inteira, e ficamos sem saber o que fazer. Lá fora a multidão de homens vazios e de copos cheios na mão, olhando para o seu celular que comprou no cartão em dez vezes. Curtindo, compartilhando, escrevendo obviedades, memes e fakenews, para manter suas verdades em dia. Hoje é sexta feira. Dia 12/02/2021, dia tão singular que de trás pra frente dá o mesmo dia. O dia tão ele mesmo. Em Brasília puseram um louco que só não come fezes, pois tem gosto ruim. Mas, já estragou com a vida de muita gente. De agora e depois. Desta geração e de outra, e de outra e de outra. Nunca vi tantos bovinos reunidos, apoiando o indefensável, ruminando inverdades. E desacreditando mentiras e crimes comprovados. São contra a vacina, a favor da cloroquina, línguas de estricnina.
Hoje é sexta e amanhã não haverá Galo da Madrugada. Não vai ter carnaval este ano. Uma lástima. Claro que vai, mas não da maneira que o conhecemos. Apenas talvez um caboclo de lança vai sair rasgando solitário por entre o canavial em maremoto de angústia. Uma la ursa de corpo de retalhos e três guris batendo lata pedindo dinheiro pra comprar de dudu pra suportar este calor infernal. Ou ainda um sujeito com dificuldade de organizar e expressar seus pensamentos, ligará o seu celta 2009 com o som quase de um paredão e vai soltar suas músicas de qualidade duvidosa para todo mundo ouvir, mesmo quem não queira.
Claro que vão aglomerar. Alguns já perderam o medo da morte, depois de tanta banalização. Outros só acreditam quando a dor entra dentro de casa.
Hoje ainda é sexta e a situação de pandemia do COVID, que hoje se sabe não nasceu na China, está aí, e vai ficar por muito tempo. Até quando não sabemos. Vale a pena se cuidar. Passa álcool na mão, máscara e evite frescar. Ou, seja, fresque, mas não fresque muito não. Se quiser pode frevar em casa. Ou em cima da fossa com cuidado.
Que o rei momo nos encontre com saúde e um pouco de esperança. E enquanto pudermos seguiremos fortes nas trincheiras da criatividade, fazendo esta vida valer a pena, para nós e para os outros. E nossas arminhas em sinais beligerantes sejam apenas poemas manifestados de plurais formas contra quem nos oprime. Uma ótima noite e um bom quase carnaval.