FÁBIO E SUA MÃE
Aconteceu quando eu trabalhava como auxiliar de escritório num banco. A agência estava lotada. O telefone de uma mesa próxima começou a tocar. Atendi (era eu quem tinha que atender os telefonemas, e sempre antes do terceiro toque, para não irritar o gerente). Era alguém procurando um tal de Fábio. A voz era calma. Ele deveria estar na agência no momento, era urgente, eu poderia localizá-lo e pô-lo na linha?
-Aguarde, por favor.
-Muito obrigado.
Pus o fone em cima da mesa e me dirigi à fila do caixa, onde havia cerca de meia dúzia de pessoas.
-Com licença, tem alguém aí que se chama Fábio?
Não havia. Olhei para os clientes que esperavam sentados sua vez de ser atendidos; havia apenas dois homens. Fui até eles. Nenhum era Fábio.
-Desculpem.
Resmungando, atravessei a porta giratória para o setor de auto-atendimento. Abordei os clientes lá. Nada de Fábio. Voltei para a mesa lá dentro. Esperando que o cara não estivesse mais na linha, peguei o telefone. Ainda estava.
-Alô?
-Ahn... desculpe, mas a pessoa que o senhor procura não se encontra na agência.
-Certo. Muito obrigado pela ajuda. O motivo desta ligação é que a mãe dele está tendo um ataque e precisamos contatá-lo. Vamos ligar para os outros bancos.
Ele desligou e eu fiquei fora do ar. Teria sido um trote? Não tinha jeito de trote. A voz, além de calma, era educada como de um profissional, um enfermeiro talvez. Além disso, ele ficou esperando na linha por uns cinco minutos, o suficiente para desanimar alguém que estivesse a fim só de zoar.
E se eu tivesse achado o Fábio? Imagino ele entrando em pânico, começando a chorar, todo mundo na agência olhando e eu ficando besta, sem saber o que fazer, dizendo como num filme: "Seja forte, rapaz". Quem ligou fez bem em não me dizer na hora do que se tratava, senão não teria tido coragem de procurar o infeliz.
Penso também na mãe. Seria idosa? Viúva? Será que morava sozinha, ou talvez num asilo, (o que explicaria uma ligação como aquela)? E que tipo de "ataque" ela tivera exatamente? A voz sem afobação do suposto enfermeiro indicava algo momentâneo e não fatal, como uma crise de epilepsia.
Mas eu acho que nem ele sabia o que estava acontecendo com a mulher. Só fez o que lhe mandaram fazer, rápido, liga no banco, tá aqui o número. Era um mero subalterno que nem eu.
Os subalternos, se não participam das alegrias dos outros, ao menos só vêem de longe suas dores.