"PAPAGAIOS" DE PIRATA

"PAPAGAIOS" DE PIRATA

"Quem não tem dinheiro

conta história..."

"PAULINHO GOGÓ" -TV SBT

A memória não é a mesma aos 68 anos e tentar recordar momentos e fatos de 30, 35 anos no Passado -- talvez mais -- se torna sacrifício quase inútil, muito do que foi vivido se apagou, desapareceu. Contudo, falar em CONTRIBUIÇÃO está na Moda agora e "no currículo" até de quem "só viajou", não marcou PRESENÇA em Rodas e Batizados daquela época por ser evangélico, que não podia atuar aos sábados (e domingos), dias de festa para a Capoeira... em Belém, pelo menos. Até onde sei há quem NUNCA frequentou ou visitou sequer Grupos próximos de sua casa ! Porém, os tempos são outros e hoje é bem capaz de "aparecer por aí", em Grupos de antigos professores, agora mestres, e que ATUAM -- sem parar -- desde aqueles distantes tempos, de Belém a Castanhal.

Enquanto um "BEM AMADO" abarrota sua biografia com títulos e Diplomas (do tipo que se encontra em papelarias) procuro desencavar dos escaninhos do cérebro senil minha contribuição à Capoeira nacional -- afinal ela era BAIANA, segundo as EPS que recusavam nossa exposição em 1991/92 -- justo eu que, como o ídolo maior de tantos que mal o conheceram, tive pouca PRESENÇA na Capoeira local. Meu irmão, ao contrário, visitou naquela época boa parte dos Grupos existentes, alguns várias vezes, em poucos anos, entre 1987 e 93/94. De lá para cá abandonamos tudo... os tempos mudaram e nossa presença -- a dele, no caso -- não era mais benvinda nas academias !

Que contribuição dei eu à Capoeira, já que DEDICAÇÃO a ela quase não tive, igualzinho a um "novo deus" da dança-luta local ?! Pois bem, o registro filmado dos mestres "Peixinho" e "Lua" jogando já seria a primeira delas, no distante 1975/77 no Rio, até porque mestre "Camisa" estaria no filme "Cordão de Ouro" em 1976, pintado de preto e encarnando Ogum ou Oxalá. Meu irmão estava nele e, embora não identificado, está no Mundo inteiro agora, na contracapa dos livros (e discos) de Nestor Capoeira.

Morando em Belém desde agosto de 1986, passei a ESCREVER (é só o que sei fazer) para os Jornais locais tendo dos jornalistas -- Cléodon Gondim pelo DIÁRIO DO PARÁ e, no O LIBERAL, Anselmo Barra e uma certa Lorena (Souza ?) -- apoio a meus escritos e projetos, alguns ligados à Capoeira. Enquanto jornaleiros, conseguíamos as reportagens sugeridas e éramos os maiores "compradores" do Jornal, ficando com 10, 12 e até 20 exemplares, para distribuição entre amigos. Sugeríamos as pautas ao caderno Jornal dos Bairros, o que favoreceu até um "mau-caráter" local em 1988, que vendia ferro-velho e peixinhos para sobreviver... são de fins de 1987 (novembro ?) meus primeiros textos no Diário do Pará, tema inédito na moderna Imprensa local, salvo engano. "Capoeira de rua: a luta pela liberdade" abriu espaços para um assunto "detestado" por quase todos. E não paramos mais, apesar dos Correios... DIVULGUEI com cartas e textos a Capoeira local para mestres de expressão e conceito no Rio e SP, contactei outros mais em Salvador, Aracaju e até Brasília e tivemos registros da existência do nosso CCCP (23 notas & reportagens, 5 delas de página inteira) em livro de mestre Itapoan, relacionando reportagens de Capoeira em jornais de todo o Brasil. Dele recebemos 3 livros, outros 3 de mestre André Lacê e 2 do prof. dr. Renato Vieira (DF).

E assim foi crescendo nosso acervo -- com o pouco material antigo trazido do Rio -- com a ajuda da nossa atividade como recicladores, que se efetivou em 2003, ao largarmos em definitivo a venda de jornais. Admitindo que em 1996 -- quando tentamos vender a coleção de jornais, livros, revistas e fotos para meia dúzia de Universidades e Secretarias locais -- o acervo não fosse tão grande, (*1) era bem considerável e só em CONVITES de Batizados locais, registros oficiais de cada evento, havia mais de 50. Tudo se perdeu em 2009, quando vendemos como "papel velho", entre êles 20 cartões postais raros... de um material que começou em R$ 1500,00, adiante R$ 1200,00 e, por fim, MIL REAIS, tentei "empurrar" para um professor vizinho (que se queria MESTRE e aceitou virar "aluno formado" em Grupo de fora, do Rio) apenas os 405 jornais, boa parte de Belém, por míseros 120 reais. Regateou, oferecendo a metade... lhe DEI umas 15 reportagens "em duplicata" e o mandei "cantar em outra freguesia"! (Isso sucedeu por volta de 2000.) Assim findou um acervo riquíssimo para a História -- de Belém, no mínimo -- pois fotografávamos as Rodas na praça da República quando lá surgia um desses "mestres-meteoro" que só se vê a cada 10-15 anos e que "somem" logo depois. Um certo "mestre-chapelão" é um deles... quando esteve em Rodas na praça (entre 1988 e 93), ao menos para TOCAR ? Quando o mais famoso dos mestres locais lá esteve, exceto para inaugurar num domingo de 1995 (ou 94) a recém-fundada FEPAC ? Ah, esqueci que o cidadão "não jogava" aos domingos, por motivos pessoais.

Eis que surge agora um desses pesquisadores que proliferam na ex-Feliz Lusitânea, nascida Forte do Presépio... e "joga na minha cara" que o decantado acervo pode nem ter existido. E vem com título "de doutor" (além do de contramestre), dono de uma tese que quase ninguém viu, se o problema É VER para crer ! Ora, quem viu o tal TRABALHO do nome maior, a alegada DEDICAÇÃO e, vejam só, a contribuição dele para a Capoeira ? No entanto, danam-se a divulgá-las, como se as tivessem presenciado. Pior: não lhes incomodam as "origens" citadas a cada reportagem ou depoimento, sempre diferentes, conflitantes até. A "ordem do dia" é ENDEUSÁ-LO e isso vem sendo feito, pouco importam os vídeoclips da figura, "que embaçam" tais discursos.

Pois bem, "mato a pau e mostro a cobra"... o acervo existiu, era realmente grande (em 2009, pelo menos) e só lamento pelas fotos e cartões postais, por alguns livros também. (*2) Os discos LPs ficaram com nossos amigos Nelson Guedes e mestre Fernando Rabelo... a este coube cuidar das 5 pastas com mais de 300 ofícios diversos e mais de 50 cartas recebidas de mestres de outros Estados, entre êles Alvinho Sucuri e Macaô (SE), Itapoan (BA), André Lacê e Cigana (RJ), Oswaldo de Souza (GO), "Gavião" e "Farol" (RS), Burguês (PR), Limão, Waldenor e César (SP), além do famoso mestre SUASSUNA, que admiro e que no longínquo 18 de maio de 1988 me convidaria para seu evento nacional. Não tinha eu condições para ir mas lhe ESCREVI (é só o que sei fazer, na Capoeira) emocionada Apresentação para o evento, da qual não ficou nem cópia, eu não costumava guardar rascunhos.

Minha CONTRIBUIÇÃO foi pôr a Capoeira DE BELÉM no mapa do Brasil (*3) entre 1988 e 92, indo até o Canadá, EUA, Alemanha e Polônia... já a do tal "novo gênio" desenterrado não se sabe porquê, eu desconheço ! Só não será com esses vídeos, a não ser que estejam todos cegos (ou surdos) ! Como não sou "papagaio de pirata" divulgo somente o que pesquiso (e muito) e não o que OUÇO por aí, dito por vezes com má-fé, para enganar crédulos !

"NATO" AZEVEDO (em 9/fev. 2021)

************

ADENDO AO TEXTO:

(*1) - segue abaixo breve relação do acervo em 1996/97... a foto p/b é de abril/1989, quando a coleção era pequena e o registro foi feito ao ar livre só com os livros e revistas mais expressivos (nenhum jornal), inclusive a rara ARTES MARCIAIS que cobriu o 1º Campeonato Carioca de Capoeira, em 1973 eu acho. Essa revista foi enviada ao Grupo SENZALA, como presente ! Me surpreende que possam insinuar que a relação É FANTASIA, não devia existir... há ofícios meus para 5 ou 6 Universidades e Secretarias de Belém repetindo essa mesma lista. Como eu ficaria se tais documentos não estivessem na coleção? Até no Museu da UFPA -- na época sob a direção do insígne pesquisador Vicente Salles -- deve constar tal ofício e, mais, relação de ONZE PÁGINAS em xerox descrevendo a parte inicial da hemeroteca (jornais) com mais de 200 REPORTAGENS descritas.

ACERVO DO CCCP-Centro Cultural de Capoeira do Pará:

1] jornais do CCCP (1988 a 92) -- 63 notas/reportagens

2] GRUPOS DE BELÉM, 1987/2006 -- 405 notas/reportagens

3] OUTROS ESTADOS, 1981/2000 -- 66 notas/reportagens

4] JORNAIS de Capoeira -- são 29, especificamente com o tema

5] 25 LIVRETOS - de grupos, quase todos de outros Estados

6] mais de CEM POSTERS, decalques, mapas,calendários,

7] 95 CONVITES de outros Estados oficios/folders, etc

8] 106 CONVITES DE BATIZADOS, dos grupos de Belém, de 1987 a 2009, etc e etc.

(*2) - imagem do RECIBO da venda em 28/julho de 2009 de 1.300 quilos de "papel velho", dado pela RIOPEL, na época em Belém, pelo qual recebi míseros 104 reais. Ao lado, trecho ampliado da carta inicial de mestre SUASSUNA, de 18/maio de 1988, na qual me convida para seu evento nacional .

(*3) - nossa divulgação da Capoeira não ficou só nas reportagens locais... nos propusemos A VENDER em Belém revistas nacionais de Capoeira (que não chegavam aqui) e as editoras nos enviavam exemplares EM CONFIANÇA, para pagar depois, e que a gente punha à disposição NAS BANCAS de vários bairros. Também vendemos 10 ou 20 LPS dos mestres da Federação Carioca, promoção de mestra "Cigana" e distribuímos perto de 150 revistas do Grupo MUZENZA -- algumas foram vendidas, para cobrir despesas com ônibus -- até mesmo para as Universidades que SE RECUSARAM a comprar nosso acervo.

OBS: na biblioteca de revistas da UFPA a jovem atendente replicou que SÓ PORIA as revistas para o público quando eu COMPLETASSE a coleção. Deixei lá 19 REVISTAS (do 1 ao 31, se bem me lembro) e nunca mais voltei ! Isso é que é CONTRIBUIR com a Capoeira... não é fazendo discursos ou "passeando" ! (NATOAZEVEDO)