Os outros e o Outro

Após um longo dia na faculdade, sento-me em um banco da praça. Começo a pensar sobre os eventos que ocorrem hoje, nos debates e palestras que tive naquele lugar que chamam de ensino. Começo a pensar nos alunos discutindo, mas não conversando. Começo a pensar nas falas que, em uma análise mais detalhada, se constituem em monólogo, não em diálogo. Também reflito sobre como os alunos, após incontáveis sessões de monólogos, começam a falar mal uns dos outros em seus respectivos grupos. E tudo isso me faz questionar sobre os outros, sim, os outros, não eu. E por consequência lógica, também começo a me questionar sobre o Outro.

Penso sobre os outros, mas já parei para me questionar sobre o que realmente são os outros? Bem, eu estou fazendo isso agora. E o que são? Nada mais que o problema. Os outros são aqueles constituintes do inferno, são as chamas, são os problemas de nossa vida. Os outros são aquela massa imperfeita, amorfa, mas que podemos localizar as maiores desgraças do mundo neles. Os outros são coisas as quais queremos manter distância, mas que acabamos tendo contato todos os dias. Os outros, em resumo, são espelhos de nós mesmos.

Mas, e o Outro? Aí que mora a irônia. O Outro é aquele que não tenho acesso. É aquele que vejo, mas que não consigo tocar, pois, entre mim e ele, há um abismo. O Outro é incomunicável e verdadeiramente incompreensível. O outro é aquilo que, em nosso âmago, queremos realmente achar; mas que acabamos falhando miseravelmente. Note, queremos achar, mas não procuramos. Temos medo de escutar o Outro, isto é, temos medo de conhecer o que realmente queremos. E, realmente, é algo normal, pois um dos medos mais básicos da humanidade é o desconhecido, o inacessível, a realização do desejo. Mesmo assim, passamos a vida achando conhecer o Outro, uma verdadeira ilusão. Mas, não seria a ilusão o constituinte da vida? Sua substância principal?

Assim, começo a pensar em saídas para essa situação, em como poderíamos achar o Outro; mas sou fortemente interrompido por um importuno que no momento não estou com a mínima vontade de escutar.

-Tio, tio? -diz um garoto que aparenta ter uns 12 anos.

-Que foi? -Disse eu, já irrirado, querendo responder que não sou irmão da mãe dele para ser chamado de tio

-O senhor tem horas?