Rapadura antes, Açúcar depois.
Na minha infância, via minha mãe adoçar o café muito mais com a rapadura do que com açúcar. Isto porque o produto tinha maior oferta nas feiras livres do nosso sertão, em razão dos tradicionais engenhos do Nordeste. Num lugarejo conhecido por Várzea Comprida, às margens do São Francisco, no sertão baiano, distante de nós cerca de duas léguas, medida mais usual do que o quilômetro, havia um engenho de pequeno porte, ainda movido por tração animal. Em época de moagem, lá íamos nós, lambuzarmos no mel, tamanha era a festa para a criançada. Apreciávamos ver os bois rodando o engenho, homens nus da cintura para cima, mexendo o caldo da cana nos tachos, até o ponto do mel. A quentura justificava a maneira como aqueles homens ficavam descamisados. As mulheres se dedicavam à feitura de alfenins, uma delícia de sabor, que seria comparado ao brigadeiro de hoje, na preferência das crianças.
Com o advento das grandes usinas de açúcar, os tradicionais engenhos foram desaparecendo. Os de hoje ainda existentes servem mais de atração turísticas, assim como os de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Ceará. Por isso, não deixamos de saborear a rapadura, muito encontrada nos quiosques de todo o nosso Nordeste. Se não mais adoça o nosso café, serve de ingrediente da gastronomia sertaneja, principalmente numa bela sobremesa.