Não se acostumar
Alguns anos atrás a mãe de uma ex-aluna me parou na rua para tirar algumas dúvidas. O assunto pouco (ou nada importa; afinal, dizia respeito apenas a nós três e era coisa corriqueira mesmo). Ocorre que nossa conversa enveredou para a questão de a gente viver num mundo onde tensões marcam momentos, novos problemas se agrupam aos antigos e as situações debandam para um desses três casos: a) a pessoa vai desistindo de viver e começa a se entregar; b) a pessoa se acostuma com tudo ou c) a pessoa não se conforma e resolve remar (ou nadar) contra a corrente, "Against All Odds", tal qual sugere o hit de Phil Collins, vulgarmente (no pior sentido do termo, talquei?) conhecido como "Take A Look At Me Now" (AAARGH!).
A Vida tem seus altos e baixos – convenhamos: nenhuma Montanha Russa pode competir com ela nisso... Acostume-se. Hã? "Acostume-se"? Ao quê? Deus! R. (a mãe da aluna), ao meu ouvir dizer "É, é assim mesmo. Eu até me acostumei com isso", respondeu: "Não, Professor. Não pode se acostumar. Temos que fazer algo contra o que a gente sabe que não está certo..."
Eu vos pergunto: e aí? Já se acostumou a não se incomodar? A aceitar o inevitável? A lamentar o leite derramado? A segurar as lágrimas? A se arrepender do que fez e do que deixou de fazer? A seguir o mesmo caminho trilhado pelos outros? A dar a cara a tapa (socos e pontapés)?
Fiquem em Paz. Não vim dar lição de moral em ninguém, talquei?
Vim em Paz – mesmo. Vim para dizer que a Liberdade está aí mesmo. Independentemente de ser quem a gente é. De ter o que temos, de não ter o que não temos, de não saber que diabos viemos fazer nesse Enorme Laboratório de nome Planeta Terra. Para dizer que a gente vai ora se deixando levar pela onda, ora lutando contra ela – sofrendo com isso, virando alvo de piadas, motivo de chacotas, enfim, vendendo o almoço para comprar a janta. Vim para dizer que teu dia é Você (e nunca os outros) que faz. Que os Mortos deveriam estar Mortos e não passeando por aí. Compreender o presente não implica concordar com ele. Mas sim sofrer menos. Saber que as coisas estão como estão porque todos nós temos uma parcela de responsabilidade nisso. Reitero que não vim dar lição de moral em ninguém. Não faz meu tipo, talquei?
Ah, sim. Outra coisa. Podemos ou não nos acostumarmos com as coisas. Em caso de não nos acostumarmos, devemos procurar a raiz do problema e somarmos forças para resolvê-lo. Em caso de nos acostumarmos, ora, é só ir empurrando a Vida com a barriga. Coisa mais fácil, oras.