O AMADO CABELO CRESPO
Outro dia me peguei hidratando o meu cabelo e pensei no trabalho que foi lidar com ele, de quando eu era pequeno até hoje em dia. Mas não pense mal. Eu quase sempre tive um amor danado nele, o embrulho que me causava era ter que aturar o povo falando mal, botando defeito onde só tinha beleza. "Corta assim, deixa assado, raspa!", uma perturbação sem fim, choradeira pelo que é dos outros. Onde já se viu?
Quando eu era pequeno, ouvia mas tinha medo de rebater o preconceito do povo. Se quase todo mundo falava, eu não ia ser teimoso de bater de frente até com parente meu. Mas raiva, ah, essa eu tinha de monte. Imagina só, ter uma crespura tão formosa e não poder se deixar bonito porque tem gente que não gosta? Apesar de não saber o que fazer direito, eu ficava encasquetado naquilo. Era inocente também, num dava pra pensar em muita coisa. Só consegui calcular diferente depois de grande.
Oxe, ainda bem que mudou! Quem ia gostar de raspar a cabeça toda vez que vai no barbeiro? O cocuruto cortado na zero ficava parecendo um rato pelado. Quero não. Hoje em dia é diferente! Gasto tempo à vontade pra desembaraçar, hidratar, botar creme, mexer e remexer. Muitas vezes demora até terminar, mas não ligo pro tempo. Quem ama cuida e eu, amo meu cabelo.