Canalizando o Poder do Poeta em Um Novo Escritor

Entre 1994 e 1996 eu costumava chegar da escola (Ensino Médio) e ia para o quarto escrever. Tinha fixação por títulos com três palavras no máximo, com caneta vermelha e centralizado na página. Eu comecei a esboçar meus escritos entre fevereiro e junho de 1990 (um misto de diário, comentários sobre músicas, filmes etc.).

Hoje, ao voltar da janta das "Crianças", senti uma brisa acariciar meu rosto e me trazer lembranças daqueles tempos (1990 a 1992, até o fim de março desse último ano, quando... deixa pra lá. Porque eu encontrei uma citação que eu fiz dA Falecida me dizendo que se eu a esquecesse eu seria feliz... Consta em meu caderno da 7ª Série C; fiquei meio confuso, perdido, quase chocado ao ter lido isso num desses dias; ora, se eu o tivesse feito, jamais teria perdido tempo publicando meu livro "Nº 1643"...)

Quem escreve tem que fazer escolhas. Tem que decidir o que caberá no papel e o que é adereço, acessório, inútil ao que precisa constar escrito, sabe? É.

O computador não tem hoje a graça que tinham aquelas folhas de caderno soltas, lá por 1992-1996. Elas tinham um quê mágico, uma graça, um apelo. Eu me sentava à lateral da cama e me punha a escrever inúmeras coisas (sem muito sentido nem nada a mais, mas que eu adoraria ter como reler hoje – por minha sorte, guardo comigo, no mesmo caderno, escritos datados de 1993; alguma coisa consta de 1992, mas... hã... muito pouca coisa; o que realmente persiste são textos de 1993, quando eu cursava a oitava série).

Eu sinto o peso da idade em mim. Completei 44 anos dia 27/01/2021. Com a idade vêm perdas significativas (não estou falando dos fios de cabelo, heheh) como, por exemplo, o hábito de esperar mais do Mundo, das pessoas, da Vida em si mesma. Com o tempo as coisas vão se perdendo. As ruas mudam, porque as casas sofrem alterações. As pessoas mudam – envelhecem, sim, como nós. Perdendo alguma coisa de quando tinham e estudavam cerca de trinta anos atrás com a gente.

Escrever se faz uma necessidade. Porque a Vida se vai, porque o Tempo se vai, porque as Esperanças se despedem dos que fomos, ora para dar chances a novas Esperanças, ora porque algumas delas se revelaram ínfimas e sem efeito. (Velho, que vontade de chorar!)

Eu (essa palavra tão estranha a alguns de nós – nós mesmos, autores) lamento muito não ter guardado a maior parte de meus escritos. Eu bem que poderia tentar compreender a evolução de meu pensamento e de meu ser por meio de uma leitura deles. Mas não. Algo se perdeu com eles. E algo que talvez nem faça realmente falta hoje.

Em 1996 eu fiquei quinze semanas e um dia sem escrever, após uma desilusão amorosa. Meu último escrito (para mim mesmo) fora intitulado "Saturação". Ali eu vomitava, por escrito, todo meu nojo, minha raiva e frustração por ter sido passado para trás por uma garota va*ia (caberia ao leitor preencher com a letra d ou z, conforme preferir) três anos mais jovem do que eu. Quinze semanas e um dia. E eu fiquei anotando numa folha de meu caderno títulos provisórios para meu retorno à escrita pessoal. Lembro-me bem de alguns: "Se precisar voltar, eu o farei"; "Cinco horas no Relógio" (era um número simbólico para mim) e "1996 e o que se seguiu", dentre uns outros dez títulos. Era um ensaio mental pensar no que eu iria escrever. Sobre o quê, para não mais perder meu tempo com A Porcaria.

Em 1997 eu ingressei na Graduação e meus escritos começaram a perder força. Eu tinha escrito nessa época "A Mulher Vestida de Diabo", sobre uma moça que cursava Direito e me chamava a atenção. A dualidade de meu pensamento – moralista e machista, em dois tempos –, em virtude da traição pela qual eu tinha passado, me fazia sofrer. E meu escape – claro! – era me entregar ao ofício de escrever.

De lá para cá eu dei uma forte desacelerada em meus escritos. Posso dizer, sem sombra de dúvidas, que eles duraram bem de 1990 a 1996. Foram seis intensos anos de escrita, com uma faixa de duas "cartas para mim mesmo" por dia durante cada ano.

Ao voltar de um passeio em Junho de 1994 (o poema "Bia", datado de algumas semanas atrás, se refere a essa experiência), tendo saído de casa por volta das 19h, chegando em casa no dia seguinte, um domingo, às seis da manhã, eu me sentei na lateral de minha cama e escrevi "Soldados do Nascer do Sol", em que, nessa carta para mim mesmo, eu tentava conversar com "Bia" (seu nome real dela era Fabiana). Foi ótimo ter ficado com ela. A carência em mim me fazia sentir uma atração muito forte pelas mulheres. (É estranho falar isso, mas não tinha relação direta com sexo, e sim com preenchimento de um vazio amoroso, de culto à beleza dos olhos e do rosto feminino). (A gente escreve essas coisas, se expõe na internet e acha que vai exorcizar alguns de nossos fantasmas; besteira pura! Eles continuarão lá, em nossos porões mentais. A gente simplesmente está tentando apenas respirar um pouco enquanto procura imaginar que eles estão longe e que demorarão para voltar a nos assombrar...)

O "Pequeno Poema Didático", de Quintana, é meu Poema por Excelência. Ele sintetiza o que a Vida é, desde que a raça humana se reconheceu a si mesma e percebeu, com isso, quão ínfima é sua trajetória nesse planeta tão maltratado por nós mesmos.

Qualquer dia desses eu preparo um Café Literário com alguns novos alunos e inauguro-o com 1 minuto de silêncio contra uma eternidade de ruídos e blá-blá-blás com que se (des)faz esse mundo pós-moderno em que por ora vivemos.

E ao meu leitor que eu possa avisar: com a Vossa Devida Licença, sim? Que eu vou dar uma passadinha pela Avenida Nove de Julho, lá por volta daquelas duas esquinas que por ora se aproximam do 1643... E, ao chegar em casa, no 232 da VL, ouvir "Dead Man's Party" na Transamérica FM. Afinal, voltei ao Ano Zero (1990). Quando eu a vi pela primeira vez, passeando, com seu colete e sua calça jeans azuis, no entorno. Seria possível o Retorno – ?