O QUE MANTÉM A POPULARIDADE DO MITO?!

Nada do que o Messias disser, fizer (ou deixar de fazer) ou com quem ele se aliar minará a base de sustentação do seu reinado.

Claudio Chaves

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O QUE difere a “Pátria Armada” brasileira do Estado Islâmico não é o fundamento nem o objetivo, mas, por enquanto, os mecanismos empregados para alcançá-lo. O emprego do terrorismo armado, aqui, ainda tem sido adiado. Mas a premissa é a mesma: Alá (ou Deus) é soberano, e as leis do País tem que ser as Suas leis e as convenções sociais têm que ser as Suas convenções. Simples e objetivo assim.

SE A MOTIVAÇÃO real dos eleitores do atual presidente fosse – à época da campanha eleitoral – a construção de um País sem corrupção, com garantia de liberdades, igualdade, justiça social, tolerância, fraternidade..., como alegavam alguns, teriam envidado todo esforço para continuarmos o aprimoramento de tudo que, a altíssimo custo, até ali, tínhamos conseguido enquanto sociedade (como o aperfeiçoamento e o fortalecimento das instituições constituintes do sistema democrático, por exemplo), não apoiado um projeto que explicitamente defendia a ruptura da ordem democrática, propunha a substituição do institucional pelo pessoal, do humanístico pelo metafísico e o apagamento do conhecimento em prol do retorno ao obscurantismo. Nada disso foi maquiado ou camuflado durante a campanha eleitoral. Pelo contrário, foi sua explicitação ao máximo e por diversos meios que exerceu o fetiche sobre os sectários. Nunca se tratou, portanto, de ignorância; mas, acima de tudo, de preconceito.

A SOCIEDADE brasileira – independentemente de classe, crença e/ou ideologia – é, a rigor, mesquinha, profundamente preconceituosa, supersticiosa, odienta e quase incuravelmente dissimulada.

NÃO foi informação que faltou. Foi o preconceito que sobrou... e cegou.

PRECONCEITO, ódio, individualismo, narcisismo e dogmatismo fanatizado foram o combustível que alimentou a maioria absoluta dos eleitores brasileiros em 2018, e de ambos lados, especialmente do que saiu vencedor.

NÃO sejamos ingênuos (nem autoiludidos)! Nada do que o Messias disser, fizer (ou deixar de fazer) ou com quem ele se aliar minará a base de sustentação do seu reinado. Lembre-se: ele é Messias; e, como tal, deve ser seguido, reverenciado e defendido. A questão não é de benefício apenas; mas, acima de tudo, de honra. Nesse caso, nada – nem o ato mais extremo, como o sacrifício voluntário da própria vida – é considerado prejuízo (basta ver os que preferem morrer por covid-19 a contrariar suas [des]orientações). Pelo contrário, quanto mais absurda for ação para agradar o ser adorado, mais autêntica e digna de honra será considerada a atitude do adorador (David Hume). Honrar o representante divino é honrar a própria divindade. O contrário também é entendido da mesma forma. Quem nunca ouviu falar ou não se lembra, por exemplo, de Antonio Conselheiro, Jacobina, Padre Cícero e Jim Jones, para citar apenas alguns casos dessa natureza?

O QUE menos interessa – quando interessa – aos seguidores do Messias tropical é projeto de país. Ele jamais falou sobre isso de forma séria, respeitosa e clara durante a campanha eleitoral. Aliás, ele e seus seugidores sempre se gabaram de, sequer, precisarem de tempo para propaganda eleitoral ou participação em debates. Sua proposta – baseada no que exigia seu séquito – era curta [bizarra] e objetiva: “acabar com o PT, com a esquerda e com tudo que lembrasse o comunismo, libertando, assim, o Brasil e os brasileiros da ideologia comunista, que erotiza crianças, confunde e perverte jovens, corrompe governantes, destrói a propriedade privada, a família e a religião”. Essa era a grande plataforma de campanha do indivíduo que pretendia comandar, à época, a 8ª economia do mundo. Ou seja, nunca foi uma pauta política – menos ainda democrática –, mas, sim, um projeto de poder particular, tendo como pano de fundo o combate à corrupção e como fundamento principal o populismo religioso de viés cristão evangélico. Isso sempre esteve mais claro do que o sol do Equador ao meio dia. Não faltou clareza, repito; sobrou preconceito, interesses escusos, ódio e dissimulação.