Ao parceiro de letras Dartagnan Ferraz e a quem interessar possa

O meu amigo virtual e parceiro de letras Dartagnan Ferraz é um cidadão antenado. E talentoso cronista. Mas o objetivo aqui não é rasgar seda, e sim, fazer algumas considerações, um contraponto de natureza política. Afirma o meu amigo, que a culpa da situação caótica em que o Brasil se encontra é por causa da covardia da esquerda. Como me considero de esquerda, fiquei incomodado. Adianto que não sou porta-voz de nenhum grupo de esquerda, falo por minha conta e risco.

Não meu caro, a culpa é da direita e de seus aliados, que vai das grandes corporações (nacionais e estrangeiras) empresariais e financeiras (leia-se bancos, petroleiras, o agro negócio - nome chique para predadores do meio-ambiente - a mídia comercial, líderes religiosos, juízes, procuradores e políticos vendidos, entre outros). Quando tais interesses se vêm ameaçados, eles se juntam. É o Sistema, ou se preferir, classe dominante.

Então, dizer que a culpa é da esquerda, convenhamos é muito forte. Não é assim que a banda toca. A disputa de ideias (projeto político, hegemonia) é desigual. A direita é a classe dominante, dona dos meios de produção e de comunicação. Há séculos ela domina as ideias que a sociedade civil absorve. E agora ela quer mais. Por isso o saque ao orçamento e ao patrimônio público.

O campo de atuação da esquerda - o democrático e popular - também é um campo minado. O meu vizinho, tão pobre ou mais que eu e você é "educado" por valores conservadores seculares. Derrotar esse pensamento exige um esforço cotidiano. Uma conquista aqui, outra acolá, ou como disse Lênin: dois passos à frente e um atrás. Eu não vou brigar com o meu vizinho evangélico, que vai à Igreja do Malafaia ou do Edir Macedo, com seu chinelinho de dedo, crente na prosperidade, no "tá na Biblia" e nos sermões do pastor. Nem vou travar uma luta com traficantes pobres de minha comunidade. Como já disse, a disputa na sociedade é por ideias. Quem tem os meios de convencimento (inclusive de ameaças da milícia e da polícia) é a direita. É ela, portanto, a responsável pela tragédia social a que estamos atolados. Também não poderia deixar de mencionar a classe média. Ela é a capataz da elite do atraso, como diz o sociólogo Jessé Souza.

Nos governos de Lula e Dilma houve muitos avanços nas políticas de inclusão social, apesar de um Congresso majoritariamente conservador. Demos muitos passos à frente. Agora, com Bolsonaro e Guedes, é uma correria para trás. O que fazer? Não tenho a receita, mas a História ensina que não podemos nos dividir. E para isso, precisamos construir uma hegemonia alternativa. O debate de construção de um novo projeto de país está aberto e os sinais de esgotamento do governo de extrema direita de Bolsonaro já podem ser percebidos. Para a esquerda, o desafio está nos movimentos sociais e na capacidade de mobilização.