Sem direito a serem velados

Aquela família estava inconformada, um de seus entes queridos havia falecido, eles queriam velar o falecido, seria a última vez que passariam juntos, mas a ordem era inflexível:

--- sem direito de velar!!!

O desespero era visível, a mãe, os filhos, até alguns amigos do falecido estavam no desespero, para eles aquele último momento era essencial. Mas foram impedidos violentamente.

Alguns curiosos e desconhecedores do porquê da proibição, indagavam curiosos:

--- mas porque não deixam os coitados, pelo menos ver o ente querido pela última vez, essa viagem não tem mais volta! A resposta veio taxativa:

--- quem morre de covid 19, (e olha que já estamos em 2021) não podem ser velados, tem de serem enterrados imediatamente.

Fico pensando, quantas pessoas sofrem tristezas imensas, até chegarem em quadros de depressão tremenda, porque não puderam nem chegar perto de seu ente querido, quando morre portador desse terrível vírus?

Seria um aviso de que apesar do avanço da ciência, o vírus covid 19, desafia todos assim como ele, virá outros até bem piores?... Creio que nunca podia imaginar algo com poder tal de fechar escolas, igrejas, proibir abraços, apertos de mãos, até ajuntamento de pessoas. Terrível, né? Dá a impressão de que alguma força do mal, exige a separação de todos, esnobando o amor, que muitas vezes está no gesto de carinho.

De acordo com a história, foi terrível também em 1918, quando a gripe espanhola espalhava horrores com quantidade imensa de mortes. De acordo com os relatos de minha falecida mãe, aqui na região em cada casa era comum a morte aparecer diariamente. Minha cidade, São Lourenço estava apenas despontando, longe de ser o que é hoje em dia, esplêndida, maravilhosa. Naquela época, era apenas um lugarejo, não tinha cemitério, os enterros eram feitos numa cidade próxima: Carmo de Minas, o vírus da Gripe Espanhola ia provocando terror, uma mortandade imensa, os defuntos iam carregados, enrolados num lençol, trançados num pau, até a cidade próxima. Acontecia que muitas vezes os carregadores exaustos nem chegavam no destino, jogavam o defunto num abismo no meio do caminho bem fundo cheio de pedras.

Minha bisavó andava pelas casas mais pobres, fazia mingau de fubá com ovo, dizia que ajudava na recuperação dos enfermos, alguns já em estado terminal. Meu bisavô andava pelos matos catando ervas medicinais, que também eram úteis, (relatos de minha falecida mãe) tempos difíceis, as condições da época precárias, mas o vírus foi vencido.

Pulando no tempo, vamos supor daqui a 100 anos o que vai se falar dessa pandemia constando que começou em 2019, arrasou 2020, por enquanto continuando em 2021?