A MULHER DO VESTIDO AZUL

A MULHER DO VESTIDO AZUL

Manoel Belarmino

Uma senhorinha, sempre de vestido azul estilo armorial, de cabelos brancos e sorrisos múltiplos. É dona São José do Boqueirão, a mulher do vestido azul, esposa do mestre marceneiro de carro de bois, Seu Edgar, moradora do Boqueirão, na Tríplice Divisa dos municípios de Pedro Alexandre (BA), Canindé de São Francisco(SE) e Poço Redondo(SE). Ainda mora na sua casa de taipa e chão batido ao lado da casa de farinha, onde aconteceram memoráveis festas de farinhadas. Ali, o mestre Tiopino, nas noites de farinhadas, contava as histórias encantadas e romances de princesas, de reis e rainhas, do pavão misterioso, dos heróis... O mestre Tiopino tinha gravados na sua memória incontáveis folhetos de cordel com as mais belas e encantadoras histórias.

Dona São José conta que sempre viu e vê almas de outro mundo. E as vê com naturalidade e conversa com elas.

Recentemente, graças às tecnologias modernas, recebi uma fotografia da Dona São José, extraída do Facebook do amigo Nozinho de Zé da Onça. Bateram em mim lembranças e lembranças de minha juventude naquele lugar chamado Boqueirão, onde as pessoas parecem não envelhecer nunca, onde doze meses que equivalem um ano parecem equivaler doze anos.

O Boqueirão dos Belo, dos Cirilo, dos Cazeba e dos Estandilo.

Ali eu cresci menino respirando o ar puro da natureza. Cresci me alimentando com as frutas nativas, como araticum, araçás, jabuticaba, pitomba... Carne de tatu, peba, tamanduá, cutia. Beiju, tapioca, farinha, melancia, fava, feijão de corda... licuri.

Cresci vendo a beleza e o encanto das serras, dos riachos, da cachoeira, da represa... A água das cacimbas. A Serra Grande, Serra de Prata do inverno. As novenas, as rezas, os leilões, as cantigas de mutirões, as noites de farinhadas. As sentinelas. Tudo isso me inspirou e me forjou desse jeito. Meio poeta, meio escritor, meio folclorista e ambientalista.

Ali aprendi a contemplar a natureza. Aprendi a conviver com o semiárido e com a diversidade de vida do lugar. Aprendi a ler e a interpretar a realidade e escrever poesias de amor e de vida.

A MULHER DO VESTIDO AZUL

Manoel Belarmino

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Sorrindo, sempre sorrindo,

Como as brisas do sul

Simples tão simples eu vejo

A Mulher do Vestido Azul.

É a dona São José

Simples como a natureza

Naquelas brancas areias

Seu sorriso é uma grandeza.

Vestida sempre de azul,

No mesmo banco, sentada,

Ali dona São José

Passa o tempo, acomodada.

De uma simples mulher

Muita história na memória

Que vive nestes sertões

Ouvindo e contando história.

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Manoel Belarmino dos Santos
Enviado por Manoel Belarmino dos Santos em 08/02/2021
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