Herói sem ALMA
Sou cronista do povo e como tal venho por meio desta declarar meu repúdio aos moldes vigentes da saúde pública nacional. A mercadoria da dor e da miséria segue seu ordenamento produzindo lucros incalculáveis enraizados na cumplicidade que afronta o coletivo em nome de grandes interesses. O indivíduo é massacrado nesse processo e iludido continuamente dentro dessa sistêmica fórmula de produzir decadência e desgraça social.
Confesso que choro quando vejo repetidas angústias pessoais produzidas pelo descaso dos meios competentes ao ver o grito real confundido com luzes, cores e promessas futuras de paraíso. É a dor que devia ser combatida neste país como base essencial de qualquer determinação.
A cultura do herói sem alma está enraizada em todos os mitos sendo ideal para servir aos acumuladores de objetos como sinônimos de riqueza individual. A vida comercial é feita de objetos e toda espiritualidade que dela decorre nasce da efetiva incapacidade de lutar contra a dor oriunda do processo produtivo. No fundo, existe apenas o ilusório deus\dinheiro ordenando: objetualize tudo!
Que sistema é esse que impossibilita o homem faminto de comer quando está despossuído? Quase sempre após ter dado a vida e a saúde no trabalho árduo e mal pago. Tenho impressão de que o senhor Presidente da República, deste estragado quadriênio, e de seus partidários, vivem da fantasia espiritual. De que são donos imperiais da gargalhada ao saber que um homem necessite desesperadamente de duzentos mil reais para intervenção médica sendo pobre, vindo a falecer por falta de dinheiro e de campanhas de solidariedade para cumprir o dever do Estado.
Para este senhor na presidência esta cruel verdade deve soar como melodia natural, pois, se toma como guerreiro impiedoso no campo de batalha. Na guerra construída por ele mesmo para atormentar os demais e novamente dissuadir a consciência da direção comum. Essa monstruosidade vigente revolta qualquer sensibilidade lúcida e humana.
Respeitar a religião é preceito fundamental, mas quando organizações religiosas são utilizadas para manipular a boa-fé popular tomando do cidadão humilde seus recursos fundamentais à sombra do messianismo bestial, isto é delito grave.
Quando nega a ciência, causando impactos devastadores no povo, isto é delito grave. O mito do herói está presente na construção frágil da individualidade acorrentada a coletividade do fracasso para o sucesso de poucos. A saúde pública sempre foi uma banca de negócios. Esses gigantes esmagam todos aqueles que não podem comprar a sua generosidade.
O herói sem alma que mora na mídia e acaba no poder, produzindo toda sorte de misérias coletivas, resulta em mão-de-obra barata, servil e pronta para desmoronar individualmente como o final dos tempos. Armagedom que ele pressente em si numa constante ilusão de crédito final. Enfim, eu me comovo.