O BATISMO DO MESSIAS

O BATISMO DO MESSIAS

Eis aqui água…

As coisas andam muito esquisitas, no meu tempo de criança, pois me batizei aos 10 anos, ninguém tinha essa tara de ir tão longe para lavar os pecados, nenhum candidato tinha o fetiche de ser levado para ser batizado no Rio Jordão, principalmente para ser mais especial. Qualquer riacho servia. Que diacho! Hoje um deserdado de Deus, cheio das frescuras evangélicas, candidato a crente idiota, precisa de uma ajuda sobrenatural para aturar a vida dura de evangélico, é tão hilário, que o cidadão precisa enfiar a mão no bolso, viajar por um dia inteiro, formar uma caravana liderada por um agente de turismo, que por acaso faz bico de "PASTOR" nas horas vagas, e ser levado até as margens do famoso Rio Jordão, lá, mergulhado, ele passa a ser mais crente… ou seria mais quente? Tenho minhas dúvidas! Tô começando a aceitar que depois de mais de 2020 anos, mergulhar lá faz bem… lógico, para a cultura, pois, afinal, ir a Israel não é para qualquer crente. Será que Jesus teve tanto trabalho para agendar o encontro com João Batista para ser batizado no Rio Jordão? Qual teria sido a agência de viagem que patrocinou a cerimônia? No caso do tal Jair, um crente especial, um lobista religioso em potencial, seria algo sobrenatural para os evangélicos. Ele, um GAROTO PROPAGANDA de potencial imbatível, alavancaria os negócios da desacreditada crentada do Brasil. O telefone toca:

- Pastor Everaldo, temos uma super missão para o senhor, um batismo fora dos padrões, e pode lhe render uma boa grana.

- Grana? Quanto? É seguro? O Witzel sabe disso? E o Crivella, já foi consultado? Já falaram com o Malafaia?

- Calma! É gente da sua turma, amigo de cadeira, nós temos um "milico" para o senhor dar um trato nele, é dos dorminhocos da Câmara dos Deputados que nós, em conversa com as lideranças evangélicas, queremos transformar o cochilão em presidente.

- Em que? Eu ouvi direito? Vou dar um banho no futuro homem segundo mais poderoso do Brasil? É, pois o primeiro é o Boni aquele da Globo!

- Não fala besteira, ou nós vamos procurar outro para fazer o serviço.

- Fala aí quem é! Eu topo tudo por dinheiro!

- Não sei se o Pastor vai encarar, mas é o Bolsonaro, aquele capitãozinho fabricante de tracks que foi reformado no exército por atos terroristas. Já escolhemos até o nome de batismo: Messias! Vai arrebentar!

- Pode ser no domingo, em Manguinhos, num riacho que corre por lá?

- Pastor, o senhor não entendeu, este batizado é especial, tem que ter televisão, imprensa, lugar sagrado e tudo mais, pois será o lançamento da nova velha igreja evangélica, é para arrebentar a boca da esquerda. Queremos dar um coice nas partes íntimas desta gente.

- Esquerda! Mas o cara não vai ser crente? Que história é esta?

- Não complica reverendo!

- Quer dizer que ele só vai ser "esquentado" como crente, mas não vai ser crente? Já entendi! Conheço muita gente assim! Já dei um trato nas águas em muitos milicianos.

- Sabe como são as coisas, o senhor é pastor e entende que a igreja está precisando de um empurrãozinho, uma mãozinha para lavar a alma dos fiéis e ter alguma confiança do povo.

As negociações com o Pastor Everaldo corriam tensas. Afinal de contas, o batizado era um sacramento fundamental na vida daquele "Garoto Plropaganda", ele ressuscitaria a já morta e fedorenta igreja.

- Pode ficar tranquilo, as despesas vão ficar por conta das igrejas evangélicas, vai ser tudo cinco estrelas, já reservamos até limousine, turnê por Jerusalém e um passeio pela Terra Santa. Tudo por conta da casa.

E no gabinete, ou melhor, suíte pastoral da igreja, sob o olhar de todos os santos, inclusive o João Batista, as tentações apresentavam-se irrecusáveis, sem cerimônias, era uma chance de ouro para o santo homem de Deus. Parecia cada vez mais difícil de resolver a equação entre o tamanho da seara de Deus e tamanho do negócio a ser resolvido. Revestido de toda a importância que um legítimo representante de Deus tem nessa terra de pecadores, o Pastor franze o rosto, fecha os olhos, escuta, e na cara de pau topa a parada.

- Tá combinado, mas só viajo de primeira classe, e tenho que levar mulher e empregada.

Para sacramentar o acerto, todos foram ungidos com o já famoso "Óleo de Peroba", o queridinho dos caras de pau. Para os negociantes do evento, o diagnóstico era claríssimo, elementar, na verdade. Faltava ao Jair Mintindo o sacramento para gozar da paz e das bem-aventuranças de que gozavam os filhos legítimos de Deus e dar ao Messias a condição de homem santo, de "Escolhido", óbvio, de uma classe de espertalhões. O normal é o candidato passar por um período de experiência numa igreja qualquer, lá, frequentar a famosa "Classe de Catacumbas", depois por uma "Banca Examinadora", e só depois, aplaudido de pé pelo auditório, ser liberado para ser batizado. Em um gesto já impossível de adiar, pois envolvia muitos dividendos para ambas as partes, o Pastor assente com a cabeça. Era hora do acerto.

- Vamos em frente, querem o número da minha conta? Se for dinheiro vivo, melhor, pois fico livre do leão.

O batizado aconteceria. Todos ficam aliviados. E não era apenas por sua complacência de profeta do amanhã. Os tempos não estavam para dispensar fiéis, principalmente de potencial comercial como aquele sujeito. Alguns protocolos precisavam ser flexibilizados às vezes, então, a oitiva em público foi dispensada. Até porque, seria um vexame ver as respostas do elemento, e palavrões devem ser evitados na igreja. Viajaram, a comitiva da farra do batismo, seria um festival de humor feito às custas do cristianismo. Terra Santa a vista! Aleluia! Era só partir para o ritual. Ao Jordão. Eis aqui água! Repentinamente, o tal Everaldo, responsável pela lambança, se volta para o candidato Milico Bolsonaro e pergunta.

- Você quer mesmo se batizar? Tá preparado?

Era importante perguntar, porque podia ser apenas uma vontade dos patrocinadores do evento. Às vezes a pessoa nem acredita em Deus, mas se batiza para agradar os padrinhos políticos, insinua o Pastor, obviamente sabendo da encrenca que estava arranjando e com uma espécie de clarividência e premonição, muito comum para um Profeta. E o Bozo, bobão, meio que pego de surpresa com uma pergunta tão inquisitória, com todo o peso da vida política adúltera que arrastava atrás de si, desde os tempos de Câmara dos Deputados, consegue, com algum custo, formular uma resposta mínima.

- Acho que sim! Não tenho certeza, mas para os meus projetos e os da igreja, eu topo. Pode mergulhar! Mas não me pergunta se eu vi Jesus, pois não quero este cara me perturbando. Eu sei das exigências dele. A decisão é minha e não dele, entendeu?

Não era de sua vontade batizar-se, ele queria acabar logo com aquela dramatização de quinta categoria, de teatro de bordel. A tensão já alcançara níveis bastante desconfortáveis a essas alturas. Os patrocinadores mal continham suor nas suas roupas às margens do caudaloso rio. Ocasiões como aquela sempre exigiam trajes especiais num templo, mas ali, ignorando quaisquer condições climáticas, todos de terno e gravata, alguns com um bom 38 na cintura, pois, poderiam ser atacados por terroristas. E os promotores do rito sumário se adaptavam! Suando em bicas! - É de sua livre e espontânea vontade ser batizado Jamanta, ou melhor, irmão Jair?

- Pô, rapaz, pula esta parte! Eu já tenho minhas convicções, já fui batizado pelas "Milícias do Rio de Janeiro", não quero ser chamado de traidor. Meu santo predileto é o São Queiróz.

- Se é assim, se é para o bem da igreja e felicidade geral dos evangélicos, eu te batizo em nome do PSL, do Edir Macedo e do Espírito de Porco! ARMÉM!

Para não ocasionar mais entreveros e desconfianças, os padrinhos omitiram que o batizado vivia em pecado, que já estava no seu terceiro casamento, que era amante de armas, e que venerava a mentira. Se tudo fosse dito, as negociações e o mergulho milagroso da purificação do corpo seriam ainda mais penosos, e assim, concordaram todos. Ao debochar de todos os CRISTÃOS, negar a existência de todos os demônios, reafirmar a sua crença na exploração das oportunidades, e fazer de bobos os brasileiros sérios, o tal Messias foi imerso, deixando as águas históricas do Jordão poluídas com tanto excremento e imoralidade religiosa. Ele, "na boca" do tal, e agora presidiário, Pastor Everaldo, declarou crer na remissão dos pecados, na ressurreição e na vida eterna, e aí, num lance de sobriedade, o pobre Mito lembra, na hora que se levanta das águas, com elas lhe encharcar os vestes, que precisa remarcar um psicólogo, um psiquiatra e um psicanalista. Não foi fácil negociar um sacramento tão divino. Foram dois anos de preparação para o lançamento nas águas do "Garoto Propaganda", e para o castigo dele, seu maior padrinho foi tirar uma temporada de férias forçadas em Bangu I, lá, com outros evangélicos, foi celebrar a vitória da igreja sobre os vermelhos do Brasil. Isto é uma maravilha! Aleluia!

Carlos RMS
Enviado por Carlos RMS em 07/02/2021
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