A resposta

Era uma família do interior do estado. O pai, um trabalhador rural de 40 anos; a mãe, dona de casa; e o filho, um menino de 10 anos. Viviam com parcos recursos financeiros em uma precária habitação. O pai, desde muito cedo, abandonou os estudos para trabalhar em uma lavoura a fim de ajudar a sua família. A esposa tocava a vida cuidando das tarefas do lar e, assim como o marido, tivera que deixar de frequentar o banco escolar durante a meninice para trabalhar em casa de família. O filho do casal era um menino, que, apesar da pouca idade, já ajudava o pai na lavoura e ainda tinha tempo para ir ao colégio.

Certo dia, estavam os três reunidos em casa. Enquanto o pai fumava um cigarro de palha, o menino fazia com dificuldade o dever da escola. Não encontrava no texto a resposta para uma pergunta. E indagou:

- Pai, o que é desigualdade social?

O pai se aproximou do filho para tentar ajudá-lo. Observou que havia um grande texto explicativo sobre o assunto. Sabia que não era a pessoa certa para ajudá-lo, mas, mesmo assim, pôs os óculos e se esforçava em busca da compreensão do texto. Ficou alguns minutos em silêncio imaginando dar alguma resposta satisfatória ao filho. Ao observar a dificuldade dos dois em busca de uma solução, a matriarca não se conteve e redarguiu: “Esses devê é tudo difícil mesmo!”. E continuou com suas tarefas na cozinha.

O pai, de súbito, tentou esconder sua incapacidade em ajudar o filho na tarefa escolar, culpando o menino por não saber a resposta. Recriminava-o por não ter prestado atenção na explicação da professora. O filho, cabisbaixo, não dizia nada. Não sabia se portar contra qualquer arbitrariedade de seu pai. Absorvera, pois, a culpa. O silêncio tomou conta do ambiente. A resposta ficara em branco no caderno do menino. E a vida, malfazeja e tirânica, é quem tem a incumbência de dar-lhes a resposta.