SERENATA A MARIA HELENA - UMA DECLARAÇÃO DE AMOR

Fugindo das fatigantes notícias da atualidade, acabei rememorando a época de jovem, lembrei das serenatas. Quem sabe hoje seja brega, antigo, ou quando não, fino demais. Confesso! Não sei. A verdade é que não se pode negar que era encantador, romântico.

Em minha pequena cidade, em final de semana, vez que outra fazíamos serenatas. Em algumas casas éramos recebidos, em outras não.  Na casa de Maria Helena sempre éramos bem recebidos. Tratava-se de uma família de pessoas educadas, muito elegantes. O pai e o seu irmão eram músicos, um tocava saxofone e o outro violão, então acabávamos todos juntos tocando e cantando.

Certo dia, final de semana, em uma noite estrelada daquelas que por si só já é poesia, eu e meus amigos resolvemos fazer uma serenata para a Maria Helena. Após o costumeiro “aquecimento” regado a Cuba libre, nós nos dirigimos a sua casa. Lá chegando em silêncio, caminhando na ponta dos pés, antes de iniciarmos a serenata meu amigo Ademar falando baixinho me disse: “Deixe para mim, eu ofereço a serenata para a Maria Helena”. Eu respondi: “Está bem!”. Ele disse: “Faz um solo caprichado”. Eu respondi: “Ok!”. Ele iniciou dizendo mais ou menos assim: “Maria Helena, confesso! Após muito tempo, somente hoje tive coragem de declarar o meu amor por você. Você está em meu pensamento a todo o instante. Todo o dia penso em você, todo o dia passo em frente a sua casa na esperança de vê-la. Escolhi este momento de uma bela noite para me declarar a você. Eu te amo muito, muito, mais muito mesmo".            

Claro! Não precisa nem dizer. Eu e meus amigos fomos pegos de surpresa, o Ademar nunca havia comentado a respeito do seu amor por Maria Helena. A nós só restou respeitar aquele sentimento.

Após a surpreendente declaração de amor, Ademar ainda falando baixinho disse: “Agora vamos cantar a música Maria Helena – de Francisco Alves”. Todos nós cantamos: "[Maria Helena és tu. A minha inspiração] [Maria Helena vem Ouvir meu coração] [Na minha melodia Ecoa a tua voz] [A mesma lua cheia] [Há de esperar por nós] [Maria Helena lembra] [O tempo que passou] [Maria Helena o meu] [Amor não se acabou] [Das flores que guardei] [Uma secou] [Maria Helena És a verbena] [Que murchou]". Não demorou e a porta se abriu e apareceu resplandecente Maria Helena, nos convidou a entrar e passamos juntos bons momentos.                                                                   

No outro dia, encontrei com meu amigo Ademar, ele quando me viu ainda distante começou a rir. Quando chegou perto, de imediato disse: “Hoje fui bem cedo falar com Maria Helena para lhe pedir desculpa pela declaração de amor de ontem, disse a ela que não levasse a sério”.  Então eu disse: “Quer dizer que aquela declaração de amor não era verdadeira? Ademar rindo respondeu: “Quem se declarou a Maria Helena não fui eu, foi a Cuba libre”. Acabamos rindo. Fiquei preocupado com Maria Helena a respeito, no entanto, dias depois me encontrei com ela quando então me disse que não tinha levado a sério a declaração de amor de Ademar, sabia que não era ele que havia se declarado... rsrsrs. Ainda hoje quando nos encontramos lembramos-nos daqueles inesquecíveis momentos. Bons tempos!