Mig og Meganha

Aluu! Inuugujaq meus 23 fieis leitores e demais 36 que de quando em vez sobem aqui no meu mirante literário para ver o sol se pôr em paradisíacas crônicas. Ajunngila?

Ah, esqueci: kalaallit oqalusinnaavit? Não, claro que tuzes não falam groenlandês (kalaallisut), a língua do povo inuit ("humanos" - ah, aviso mais uma vez: não nos chamem de esquimós, é muito ofensivo). Mas isso não tem importância, até porque só cerca de 55 mil pessoas a falam no mundo, ou seja, só nós daqui da Groenlândia mesmo - Charky City incluída, obviamente. O que importa mesmo é que tuzes aparecem por aqui e por isso agradeço: - Qujanaq!

Óbvio que não foi para lhes dar aula de kalaallisut que eu vim ao Recanto hoje, até porque é uma língua muito difícil de aprender e eu não quero encher o saco de tuzes e nem o meu, pois não tenho vocação pra professor e nem paciência para ensinar, sou muito egocêntrico para tal. Além do mais, para que tuzes iam querer aprender groenlandês, não é mesmo? Além de eu saber fluentemente o português, tuzes nunca virão pra cá, né? E vim aqui foi para falar de mim e do Meganha, meu qitsuk. Mig og Meganha, como se diz em dinamarquês, nosso segundo idioma - desde junho de 2009 o kalaallisut é a língua oficial daqui.

O Meganha também não sabe falar kalaallisut, gato só mia, né, em qualquer lugar do mundo, seja Brasil, Dinamarca, Groenlândia, Portugal ou Moçambique, país do Mia Couto - lembram do texto da semana passada? Pois eu fui, durante o verão daqui - julho -, onde faz, em média, tórridos 15º, fazer reparos no telhado. Tava lá por cima, deitado, tomando sol, o Meganha. Não sei como esse gordo conseguiu subir lá, mas qitsuk é qitsuk, né. Olhou pra mim com igual surpresa, como se pensasse: "O que esse inuit faz aqui em cima? Como conseguiu subir?" Escada, Meganha. Nós inuítes somos seres inteligentes dotados de telencéfalo altamente desenvolvido e polegar opositor.

Passou um tempo e eu senti aquela coisa peluda se roçando em mim. Comida não podia ser, já tinha dado a ração e o sachê pra ele. Era chamego mesmo. Dizem que os gatos fazem isso para demonstrar seu afeto e reconhecer a "superioridade" do outro gato. Sim, os gatos acham que literalmente somos outros gatos, só que maiores. No meu caso fecha todas, pois eu sou, metaforicamente, um gato - uma poesia ambulante de duas pernas. Mais lindo que o Gianechinni, já falei. Pois o Meganha se roçando em mim, lá em cima do telhado, e eu estava sentado bem na ponta da parte mais alta do mesmo, que dava para o poente.

Fiquei com medo daquela foca peluda desabar lá de cima e o agarrei no colo. Comecei a cafunezá-lo, ele se aninhou em mim e começou a ronronar. Ficamos os dois ali, apreciando o pôr do sol de Charky City. Foi um momento tão lindo que pensei em gritar para todo mundo ouvir, mas percebi que ia somente ficar rouco e incomodar a vizinhança, passando por louco. Então resolvi escrevê-lo aqui em algumas línguas mais próximas e universais - o que excluiu nossa particularíssima kalaallisut.

Eu e Meganha olhando o pôr do sol. Mig og Meganha ser solnedgangen. Moi et Meganha regardant le coucher du soleil. Me and Meganha watching the sunset. Jag och Meganha tittar på solnedgången. Èg og Meganha horfðum á sólsetrið. Jeg og Meganha ser på solnedgangen. Ich und Meganha beobachten den Sonnenuntergang. Et ad solis occasum spectans Meganha. Io e Meganha a guardare il tramonto. Meganha y yo mirando el atardecer.

Era isso. Takuss'! Vi ses! See you! Au revoir! Hasta la vista! Até mais!

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Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.

Mais textos em:

http://charkycity.blogspot.com

(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né. Acho que continuarei seguindo o conselho que a Giustina deu num comentário em 23 de outubro de 2013: "23/10/2013 00:18 - Giustina

Oi, Antônio! Como hoje não é mais aquele hoje, acredito que não estejas mais chateado... rsrrs! Quanto ao teu blog, sugiro que continues a divulgá-lo, afinal, numa dessas tu lembras tua senha... Grande abraço".)

Carta aberta aos meus 23 leitores: https://www.recantodasletras.com.br/cartas/3403862

Antônio Bacamarte
Enviado por Antônio Bacamarte em 05/02/2021
Reeditado em 05/02/2021
Código do texto: T7177302
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