LIÇÃO NA MADRUGADA

Acordei as três horas da manhã, com uma barulheira na rua. Ainda na cama tentei adivinhar o que seria. Primeiro uma freada, depois barulhos metálicos estridentes, pessoas falando umas com as outras. Foi um acidente, pensei enquanto me levantava de maus bofes para olhar. Já fui fazendo juízo, culpando a prefeitura por não sinalizar direito aquela esquina, onde acontece pelo menos um acidente por semana. Abri a porta da sacada e deparei com o seguinte: Um caminhão de lixo fazendo seu trabalho, parou um pouco abaixo do meu prédio, e os garis corriam recolhendo o lixo das caçambas enquanto conversavam, riam, e brincavam uns com os outros. Fiquei surpreso com aqueles homens trabalhando naquele horário, trabalho pesado, ganhando pouco, e ainda por cima de bom humor. Fiquei envergonhado de ter levantado mal humorado para ver o que era. Como são diferentes os seres humanos. A maioria de nós ganha melhor do que eles, trabalha em ambiente refrigerado, com horário definido e vive reclamando da vida. Acredito que seja uma questão de medir a felicidade com réguas diferentes. Para aqueles trabalhadores, o que importa é ter emprego, levar comida para casa, e cuidar dos filhos. Não estão preocupados em somar, acumular, enriquecer. Têm modestíssimas expectativas de lazer. Parece que a felicidade para eles custa muito menos do que para a maioria de nós. Que, ao contrário, vivemos numa competição surda e desenfreada. Parecemos cachorro correndo atrás do próprio rabo, sem nunca alcançar. Nunca estamos contentes com o que somos nem com o que temos. Ao fim do seu turno de trabalho, aqueles homens estarão provavelmente exaustos fisicamente, mas o seu grau de estresse será sempre muito menor. Nada que algumas horas de descanso não resolva. Vivem de forma muito mais simples, provavelmente são mais gratos à vida pelo que têm e, medindo pela sua escala são felizes. Nós, mais privilegiados economicamente, precisamos aprender com essas pessoas mais humildes. Nem tudo na vida é competição, dinheiro, status. Não estou pregando que sejamos todos frades franciscanos, mas precisamos pelo menos agradecer mais pelo que temos e reclamar menos do que não temos. De agora em diante quando acordar com o barulho dos lixeiros, vou encarar como uma serenata.
Al Primo
Enviado por Al Primo em 05/02/2021
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